COMO DIZER ADEUS
Rangel Alves da Costa*
Sei que é muito difícil, que geralmente as pessoas não estão preparadas, mas dizer adeus é tão importante e necessário como perguntar como vai ao chegar.
Torna-se ainda mais complicado porque a expressão adeus sempre lembra partida, despedida, término, viagem, quebra de vínculo, fim de um relacionamento.
Na verdade, o termo adeus significa nada mais nada menos do que “Fique com Deus”, pois remete à expressão “Que Deus o proteja”, “Tenha a companhia de Deus”, ou ainda “Vá a Deus”, desejando que um ente querido fique ao lado do Senhor na vida eterna.
Tem-se ainda o adeus como uma expressão de polidez e amizade dirigida a alguém antes de uma separação mais ou menos prolongada; uma maneira de despedir-se de quem sai de um lugar; um termo poético para expressar o abandono, a tristeza pelo distanciamento forçado de alguém que se ama muito.
Mas como dizer adeus sem que o mundo caia, sem que passe a parecer que a despedida é uma sentença de morte? Na verdade, há muitas maneiras de se dizer adeus sem expressar ou transmitir tanta dor, tristeza ou sofrimento.
Assim, para não ter que abrir a boca e ferir muito mais do que o necessário, lembre sempre que é importante dizer adeus perto de uma estrada, onde mais adiante haja uma curva, e de lá, quase sumindo da visão, tirar o lenço branco do bolso e acenar. Pronto, não há como negar que houve uma despedida, que a pessoa que acenou na distância talvez não volte nunca mais.
A pessoa que quer acabar um relacionamento pode, por exemplo, apenas telefonar e dizer que foi bom o quanto durou e pronto. Contudo, há aí um problema ético a ser resolvido, pois quem faz isso sem olhar nos olhos do outro não passa de um canalha, de um aproveitador, de uma pessoa que demonstra não merecer mais o respeito de ninguém. Ademais, gente assim não tem coragem de dizer adeus cara a cara, frente a frente.
Sinceramente vejo como atitudes ridículas e abomináveis, mas tem gente que para dizer adeus cria as estratégias mais vis possíveis. Assim, se preocupa em aparecer com outra pessoa aos beijos e sempre na esperança que isso chegue aos ouvidos do outro; pede a pessoas que procurem a namorada e relatem absurdos, dizendo que tem amante, que vive saindo com prostitutas, que tem não sei quantos filhos de mães diferentes. Sabendo disso, a pessoa vai dar o relacionamento por encerrado e o adeus silencioso, por parte do outro, já foi conseguido.
Tem gente que vai dando adeus aos poucos. Primeiro vai sumindo, passando cada vez mais tempo sem se preocupar com o outro; depois começa a dar desculpas por cima de desculpas para não aparecer mesmo; e por fim, quando a pessoa começa a sentir que nada mais existe entre os dois e quer apenas confirmar isso, então o outro simplesmente faz com que fique sabendo que é melhor assim, que é melhor um ficar distante do outro.
Sinceramente, nunca disse adeus a nenhuma namorada, pois a despedida sempre vinha da parte dela, mas se algum dia tivesse de fazer isso seria de modo diferente, mais humano, respeitoso e menos doloroso.
Contaria a verdade, diria tudo de uma vez por todas, ali, olho no olho, com a explicação mais verdadeira que houvesse; diria que estou com problemas, procurando explicações maiores sobre a validade da relação, e depois perguntaria se estava disposta a esperar um pouco até que eu me decidisse.
E mais: diria que estava amando demais e que isto estava me deixando quase sem tempo para viver, para pensar noutra coisa e em mim mesmo, e que por isso mesmo precisava de um tempo sozinho para refletir melhor sobre a vida; diria que infelizmente, sem precisar entrar em detalhes, o amor não continuava mais como antes e que um afastamento seria o melhor para os dois.
Mas se nada disso desse certo, pois é perigosa demais a despedida olhando na face do outro, pediria perdão por pensar em ir embora e depois me entregaria de corpo e alma, amando avidamente como jamais amado, até que um dia venha o forçado adeus, para ir a Deus.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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