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terça-feira, 9 de agosto de 2011

O TEMPO DE UM SEGUNDO (Crônica)

O TEMPO DE UM SEGUNDO

                                 Rangel Alves da Costa*


Está escrito em algum lugar: Segundo é a subdivisão do minuto, que tem sessenta segundos; é o já, o agora, o momento, o instante, imediatamente. É o ainda o não pensado e já existente, é o que prescinde a ideia e chega com formação abstrata à mente. Mas em qual instante? Num indefinível momento, pois já acontecendo antes do pensamento.
Segundo é o incansável passo do pêndulo, o olhar que não enxerga mais aquilo que olhou para ver, é a sombra da sombra da sombra do ponteiro que ainda vai passar em determinado ponto do marcador do relógio. É um tempo quase imaginário, pois só de pensá-lo já é outro tempo.
É a aflição do relógio da praça, seu medo, sua angústia porque já se sente batendo, sofrendo, numa contínua angústia, pois o tempo não para. É o ensaio do cuco, a voz que lhe vem na garganta, o grito preso que vai se soltar. É o ponto em cima do ponto, único, sem pressa para sair do segundo. É o começo da corrente sem se fazer ainda energia na outra ponta.
É também a unidade de tempo do sistema internacional; a unidade de medida angular usada também para medir intervalos de tempo. Segundo a Física, é a unidade de medida de tempo, definida como a sexagésima parte do minuto; atualmente, o segundo é definido como a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente aos dois níveis hiperfinos do estado básico dos isótopos 133 do átomo de césio.
Mas o segundo, como dito acima, é tempo demasiadamente demorado. Basta ver que antes dele ainda existem o milissegundo (um milésimo de segundo), o microssegundo (igual a um milionésimo de segundo), o nanossegundo, o fentossegundo, o atossegundo, o zeptossegundo, o ioctossegundo. Tão ínfimo e nada, mas ainda está subdividido, e dentro dessas subdivisões talvez existam outras nanosubdivisões.
Verdade é que nem sei se tenho tempo suficiente para pensar no segundo, pois não penso tão rápido. Contudo sei muito bem o que pode acontecer no espaço e até em menos de um segundo e os motivos que o faz constatado como um tempo demorado demais. Imagino que ninguém queira acreditar, mas situações existem em que o segundo se torna eterno.
Pelo espaço, na terra e em todos os lugares que formam o imenso e talvez infinito universo, os seres, os elementos, as coisas e os fenômenos, existem igualmente, da mesma forma que estão se comportando num determinado espaço de tempo, num segundo ou menos do que isso.
Ora, se existem num determinado espaço de tempo é como se estivessem parados naquele momento, para se modificar de repente, em menos de um segundo, e causar uma imensa transformação, pois quatrilhões ou quinquilhões de objetos se movendo para se modificar a um só tempo, logicamente que, mesmo imperceptivelmente, provocam uma imensa e incomparável reação em cadeia.
Na natureza tal fenômeno existe sem que ninguém jamais possa enxergar a olho nu, pois só o ato de olhar já seria muito mais duradouro do que um segundo. Assim, por exemplo, tem-se um processo químico que irrompe numa folha de árvore em determinado momento, em menos de um segundo, e nesse mesmo instante o vento bate na folha, um galho se curva, um tronco cai. Pode-se afirmar que uma coisa não teve nada a ver com a outra, mas o resultado é o mesmo, pois em um segundo aquele aspecto da natureza já recebeu uma profunda transformação.
No ser humano não é diferente. Os membros parecem agir livremente, com vida própria, ainda que não estejam dissociados do todo orgânico. Contudo, cada ação livre de uma parte reflete imediatamente no todo através do cérebro, que imediatamente registra em menos de um segundo tudo aquilo que ocorreu nas outras partes do organismo num tempo menor ainda. É como se um toque doloroso no pé, ocorrido num microssegundo, só fosse refletido no cérebro instante depois, e espalhado para o corpo, ainda nesse espaço de tempo, como dor ou outras reações.
Não sei se entenderam o que pretendi demonstrar. Contudo, o melhor é que fica a certeza que durante a vida, que se perfaz em anos e anos, temos tempo demais para fazer coisas boas e escolher nossos melhores caminhos. Há tempo demais para isso tudo. E quem acha que não há mais tempo para sonhar e realizar, não sabe o tempo que está perdendo, pois cada segundo é poderoso e importante demais.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com 


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