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domingo, 21 de agosto de 2011

A TRISTE E CRUEL SOLIDÃO DO ESCRITOR (Crônica)

A TRISTE E CRUEL SOLIDÃO DO ESCRITOR

                               Rangel Alves da Costa*


Na mais simples e ampla concepção do termo sou escritor. Situo-me dentro do contexto contido nas enciclopédias e dicionários sobre o que é ser escritor.
Segundo a Wikipédia, “Escritor é o artista que se expressa através da arte da escrita, ou, tradicionalmente falando, da Literatura. É autor de livros publicados, embora existam escritores sem livros publicados (chamados, por alguns, de amadores)”.
Escritor é “Quem escreve. Pessoa que se dedica à criação ou à crítica literária, ou que redige obras científicas, filosóficas, culturais” (Dicionário Aulete); “O que escreve. Autor de composições de qualquer gênero literário” (Dicionário Michaelis); “Autor de obras literárias ou científicas (com relação ao estilo, à forma que emprega)” (Priberam).
Sigo os passos de um blogueiro lusitano, afirmando que escritor é aquele que escreve apresentando na sua obra uma contextualização do tempo em que está inserido, aquele que revela o seu íntimo perante a harmonia das letras. É, sim, aquele que se reinventa para inventar um contexto literário.
 Ou, como afirma W. H. Auden, “Aos olhos dos outros, um homem é poeta se tiver escrito um bom poema. Aos próprios olhos, ele é poeta apenas no momento em que faz a última revisão num novo poema. No momento anterior, era apenas um poeta em potencial; no momento seguinte, é um homem que parou de escrever poesia, talvez para sempre”.
Seja como for, escrevo poesias, contos, crônicas, romances. Publiquei o meu primeiro livro, Todo Inverso, em 1994, através da Pesquise/Sociedade Editorial de Sergipe. De lá pra cá tenho produzido sempre, o bastante para já ter publicado mais de dez livros, dentre os quais os romances Ilha das Flores, Evangelho Segundo a Solidão, Desconhecidos e Tempestade; as crônicas O Livro das Palavras Tristes, Sertão, Crônicas de Sol Chovendo e Crônicas Sertanejas; poesias em Poesia Artesã, Já Outono e Andante; contos em Três Contos de Avoar e A Solidão E Árvore e outros contos, além de temas diversificados em Poço Redondo – Relatos Sobre o Refúgio do Sol, Da Arte da Sobrevivência no Sertão – Palavras do Velho e Estudos para Cordel – Prosa rimada sobre a vida do cordel. Todos publicados pela editora Agbook (www.agbook.com.br).
Pois bem. Além destes livros já publicados, tenho muitos outros já prontos, finalizados. Como se observa, no contexto da produção literária sergipana o que escrevo pode ser visto como obra vasta, diversificada. Contudo, sempre numa luta renhida da pessoa que escreve com o escritor que cria, vez que a pessoa jamais desanima com a escrita, enquanto que o escritor, diante de diversas situações impostas, se sente cada vez mais desencorajado a continuar publicando.
E por que ocorre tanto desencorajamento, se a arte de escrever possibilita sempre um prazer de pai, de inventor, de criador? Ora, ninguém se alegra se a sua arte, produzida com o esmero dos artesãos, é relegada a nenhum plano pelos órgãos de incentivo à cultura, é tratada como qualquer coisa, não recebe o devido respeito senão pelo próprio autor. E o pior: não é lido.
Entristeço-me ainda mais quando penso que as pessoas nem imaginam, nem sabem o que é produzir cuidadosamente uma obra literária; criar situações, contextos e fatos que agradem àquele que certamente não vai ler sua obra. Mas tudo é feito pensando no outro, no leitor, desde o enredo aos personagens, às situações criadas, aos possíveis desfechos. E estas pessoas nem imaginam a solidão que nos é imposta, às noites convivendo com personagens, criando-os, tomando nas rédeas os seus destinos.
Como disse, tenho muito livros publicados e quase nenhum leitor. Nunca ganhei o Prêmio Jabuti nem jamais serei laureado, pois sou Rangel, não sou Chico nem outro Buarque qualquer. Sou simples, humilde, apenas escritor, e não um midiático, quando qualquer título, ainda que prime pela insignificância, é logo elevado pela mídia aos patamares de obra-prima, de best-seller. E acaba se tornando, pois impositivo, não qualificativo.
Os meus livros continuam na estante da livraria virtual. Ninguém compra, também não posso exigir nada de pessoas que apenas endeusam a literatura, porém não tem coragem de puxar da bolsa ou da carteira determinado valor para comprar um livro. E muitos chegam perto da gente com os maiores incentivos, tecendo as melhores críticas, dizendo que trate de publicar logo esse ou aquele livro pois será garantia de sucesso.
O livro é publicado e, igualmente ao escritor, fica na triste e cruel solidão da estante. Por isso mesmo é que continuo escrevendo muito, mas sempre para mim, para minha leitura e o meu prazer. E nas tantas solidões que tenho me encontro comigo mesmo, revejo meus personagens e digo que não desesperem que qualquer dia receberão a visita de alguma traça.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com    



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