IDADE E RESPONSABILIDADE: COM QUANTOS ANOS HÁ REFLEXÃO CONSCIENTE?
Rangel Alves da Costa*
Costumeiramente se ouve dizer que quanto maior a idade mais o indivíduo tem responsabilidades, reflete melhor sobre as situações e a vida, é mais capacitado para decidir entre o certo e o errado, o que é justo ou injusto, a boa ou má ação.
Até certo ponto isso pode ser visto como verdade. Mas apenas até certo ponto, pois idade alguma, seja a de um adolescente ou a de Matusalém, servirá como garantia para que o ser humano aja com coerência, responsabilidade, pense como gente grande, como afirma a gíria popular.
Ora, mas dizem que a juventude é sinônima de irresponsabilidade, de extravagância, insensatez, é o contexto da vida onde se assenta aquele que o indivíduo não tem qualquer responsabilidade pelos seus atos. Muitas vezes se verifica realmente isso, pessoas que procuram viver na contramão dos comportamentos socialmente aceitáveis, dos bons costumes, das mínimas responsabilidades.
Não se trata aqui da maioridade civil ou penal, da idade geradora de consequencias perante a realização de determinados atos. Nem de se ter a vida apta às realizações entre os dez e os oitenta anos, entre a infância e uma possível senilidade. Não, pois, a resposta moral e ética do indivíduo não obedece a este percurso.
A consciência moral e ética já está presente desde cedo em muitas pessoas para as quais muitos nem acreditam no que dizem. Se são os jovens que falam, agem e tomam posições, logo se verifica o descrédito, o não acreditar nas suas capacidades, como se somente os adultos fossem donos da verdade e do poder de realizações.
Na mata, ao lado dos indefesos colibris estão as feras prontas para o ataque, a vida é permeada entre o bem e o mal, a própria religiosidade é fundamentada entre uma divindade e uma força do mal, e não seria diferente com a adolescência. Nessa fase da vida, que é a da afirmação e do posicionamento do indivíduo, há um verdadeiro pêndulo ora tendendo a um lado ora para o outro.
Contudo, verdade é que desde antes dessa fase, ainda na infância, pequenos seres humanos já sabem muito bem o que querem da vida, já pensam o melhor para si, agem para conseguir tais objetivos e expressam isso com tal certeza que dificilmente se encontraria tal firmeza decisória num adulto. Se crianças fazem isso, logicamente que pessoas com pouco mais idade, que são os adolescentes, só não delimitam seu destino e caminho se não quiserem.
E diferentemente do que muita gente supõe, há uma verdadeira legião de jovens que estão com os pés mais assentados sobre a terra do que determinadas construções. Conhecem o seu mundo, os aspectos positivos de sua idade, as chances boas e ruins que surgem, e por isso mesmo sabem muito bem que não precisa que lhes digam de que lado nasce o sol, como cantou o poeta.
São jovens e até vivem determinadas loucuras de sua idade, mas são extremamente responsáveis, sabem perfeitamente o que desejam do futuro, não abrem mão dos seus sonhos e fazem de sua caminhada uma eterna construção. Não importa se tenham treze, quinze, dezoito anos, pois ver o outro através de sua idade é incorrer no erro de não atentar para suas capacidades.
Aliás, a idade biológica, aquela que se conta através dos anos, pouco efeito provoca no comportamento interior do ser humano. Daí logo se inferir que a velhice jamais foi certeza de sabedoria, a idade adulta jamais representou maturidade e, por consequencia, que a adolescência ou juventude não seja um momento da vida onde já se verifica no indivíduo todo o amadurecimento e responsabilidade que se espera encontrar numa pessoa com plena formação moral e pessoal.
Quinze ou oitenta anos não fazem diferença na ação humana. Aquele de quinze pode agir com muito mais responsabilidade do que o outro com idade para ser seu avô. É muito romantismo se pensar que aquele senhor de cabelos brancos, com ares de sabedoria e as melhores lições sempre à boca, possa superar a inteligência, a perspicácia, a filosofia adolescente. Cada um sabe muito bem o que diz, pois o senso ético e de responsabilidade é independente da idade, bastando que o indivíduo queira absorvê-los.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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