SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 5 de abril de 2020

Palavra Solta – dias melhores virão



*Rangel Alves da Costa


Nada de novo sob o sol. Nem subi ao alto da escada nem permaneci no reles do chão. Olhei muito para o alto, e sempre como se quisesse alcançar além. As dificuldades nos degraus, contudo, impediram tal escalada. Amei e desamei. Fui apaixonado e desapaixonado. Muito beijei e também ressequei o lábio. Tive prazer e tive dor. Na junção dos sorrisos com as tristezas, sempre a mistura de tudo em qualquer instante. Nada havia me prometido que não consegui realizar. Não me prometo nada. Vou apenas vivendo, fazendo, tentando construir castelos. Alguns se mostram de areia, outros permanecem como espelho da luta. Não comprei carro nem fiz nenhuma viagem dos sonhos. Também eu não havia me prometido nada disso. Não enchi os meus dedos de anéis nem perdi a conta de cifras em contas bancárias. O mesmo que eu tinha na entrada do ano é o mesmo que continuo tendo. Não sou de mágoas, de ódios nem de rancores. Não juntei nada disso e agora não guardo nada que me permita revanches. Sou de paz e de concórdia, talvez suportando mais do que deveria. Mas assim mesmo. Como diz a canção e o poema, a verdade é que eu deveria ter vivido mais, namorado mais, brincado mais, ter sido mais menino do que sempre fui. Eu deveria ter olhos de mais poesia, ter braços mais abertos para os abraços, ter palavras mais amigas e mais ecoadas. Eu deveria ter feito muito mais. Contudo, comigo levo – e sempre aberto – o Livro do Eclesiastes. Sei que depois da alegria vem a tristeza, depois da seca vem a chuva, depois do amor vem a solidão, depois da palavra vem o silêncio. De nada disso eu jamais pude fugir. Esperar o melhor, sim. Desejar o melhor, sim. Mas desejar não significa ter, apenas esperar que o melhor aconteça.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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