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domingo, 14 de agosto de 2011

A FAMÍLIA VAPT

A FAMÍLIA VAPT

                           Rangel Alves da Costa*


Quem achar que é mentira que ache por conta e risco, mas a verdade é que numa cidade interiorana havia uma conhecidíssima e renomada família de sobrenome Vapt. Verdade é que a família Vapt havia ganhado fama por muitas coisas, muitas trapaças e proezas, mas principalmente pela fama de garanhões que possuía os membros machos da linhagem.
Seu Varginaldo Vapt, o patriarca, homem que hoje já beirava os oitenta anos, mas mantendo sempre a fama e o duvidoso prestígio de mulherengo, era pessoa amigueira e que tinha o prazer de contar a todos que quisessem ouvi-lo as proezas amorosas dos filhos e netos, e logicamente dele próprio.
Muitos, achando que o velho não passava de um mentiroso irreparável, pediam que falasse sobre as andanças e os furdunços só pra ficarem admirados com tantas e descabidas invenções sexuais. Fingiam acreditar só para ver o homem se empolgar e falar mais e mais. Tinham quase certeza que nada daquilo era verdade, então aceitavam tudo que o homem dizia sem fazer qualquer tipo de observação.
Mas outros, principalmente os mais velhos, já acostumados com tais conversas e muitas vezes testemunhas de casos e mais casos realmente acontecidos, sentavam com prazer para ouvir o velho relembrar todas aquelas histórias que faziam os corpos envelhecidos e os corações silenciosos se queimar de saudades. Conheciam realmente as tais histórias, mas não todas logicamente.
Numa dessas conversas, tendo como companheiro de entardecer o compadre Grimério, o velho Varginaldo Vapt parecia entristecido, cabisbaixo, saudosista e triste demais na concepção do amigo. Nessa tarde não estava com disposição para enfatizar demais as coisas nem dar um aspecto fantasioso aos relatos de sempre. Era como, ao invés de trilhar pelos caminhos das fantasias e aberrações, precisasse apenas desabafar, ser verdadeiro enfim.
E dizia ao amigo que hoje, na altura daquela idade, carregando forçosamente o peso dos anos e das durezas da vida, não passava de um simples Vapt, um humilde Vapt, cuja proeza maior certamente era ainda continuar vivendo. Sendo apenas um Vapt, tudo era muito difícil de ser conseguido, muito diferente de outros tempos, quando parecia muitos em um só e tudo era Vapt, Vapt, Vapt!
E continuava dizendo que até invejava seu filho, Varginaldo Júnior para muitos, mas cujo nome verdadeiro, em homenagem ao pai, era Varginaldo Vapt Vapt. Casado, mas trazendo no sangue o afoito a química do velho genitor, era um inveterado namorador, conquistador famoso das mulheres solteiras, noivas e até casadas. Nem pensava duas vezes e ara Vapt, Vapt, Vapt. Enquanto o pai se contentava agora em ser apenas um Vapt, ele tinha orgulho do seu Vapt, Vapt, Vapt.
E prosseguia dizendo ainda que tinha certeza que a linhagem familiar ia longe, pois o filho de Varginaldo Júnior, o Vapt Vapt, também homenageando o pai e o avô, havia sido batizado com o singelo nome de Varginaldo Vapt Vapt Vapt, também apelidado de Juninho Vapt. Essa nomenclatura familiar era verdadeira festa no coração do velho.
E continuando a falar sobre o neto, dizia que esse não negava de jeito nenhum ser da família, pois ainda na adolescência já era tido e reconhecido como o verdadeiro terror da mulherada, o maior garanhão jamais visto naquelas redondezas. Tanto era assim que tinha mãe quando avistava o menino de longe logo corria pra esconder a filha, do contrário ele passava e Vapt, Vapt, Vapt, Vapt, Vapt, Vapt... E não sobrava uma menininha que ele não vaptavaptasse.
E depois de tanto falar, contente mas ao mesmo tempo deixando uma lágrima rolar pelo canto do olho, finalizou dizendo ao amigo que o que mais lhe doía era ele, um dia reconhecido como o grande Vapt, agora ser sendo chamado de Vrum Vrum Vrum. Não pegava mais na partida de jeito nenhum.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Jurema Cappelletti disse...

Meus parabéns, Rangle.

Excelente "A Família Vapt" ! Foi um prazer conhecer seu blog.

Que ninguém nos ouça, mas também sou de origem nordestina, numa mistura 'danosa' de nordestina, a mãe e italianos, os avós.