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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O CAMINHO DOS ANTEPASSADOS

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O CAMINHO DOS ANTEPASSADOS

                                          Rangel Alves da Costa*



Conto o que me contaram...
Contam que certa vez um jovem procurou um velho sábio para saber qual caminho que deveria seguir para conhecer seus antepassados.
Queria saber a história de sua descendência, sua linhagem hereditária, a raça da qual provinha, desde os primórdios. Desse modo, lhe interessava conhecer não apenas os pais de seus avôs, mas também os bisavôs destes e quem sabe chegar até o tronco comum, de onde se originou toda sua família.
Recebendo o jovem, o velho sábio silenciosamente ouviu o que ele tinha a relatar, perguntou sobre sua dúvida maior e depois mandou que se olhasse num velho e embaçado espelho, a seguir pediu que se mirasse na água contida numa bacia, e por fim mandou que olhasse bem dentro do seu enuviado olhar.
Perguntado sobre o que tinha enxergado, o jovem disse que achava que o velho espelho havia envelhecido também o seu rosto, que a água da bacia não havia permitido que se enxergasse com nitidez, e que no olhar do sábio não havia conseguido enxergar nada.
Então o velho deu um leve e enrugado sorriso e disse que nessa resposta poderia conhecer o caminho dos seus antepassados. E que fosse adiante procurando o espelho, água de bacia e o olhar dos tempos.
E assim o jovem fez. Agradeceu a sábia lição e saiu pelo mundo procurando pessoas que parecessem consigo, tivessem sua personalidade e caráter, como num espelho onde o conhecido refletisse muito do seu jeito de ser, de pensar e querer.
Depois chamou todos para que se espelhassem na bacia d’água e vissem se pareciam com os outros ao redor. E no espelho de águas sinuosas, nenhum rosto era velho ou era novo, apenas parecido ou não com o outro. E quantos todos confirmaram que talvez parecessem mesmo uns com os outros, então o jovem abraçou-os e deixou-os seguir.
Levou consigo apenas a bacia com seu espelho d’água para banhar o rosto todas as vezes que sentisse saudades de sua família e quisesse reencontrar qualquer um, com o seu olhar de agora, mas podendo enxergar todas as suas raízes.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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