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sábado, 21 de julho de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: ALI O SILÊNCIO, ALI A SOLIDÃO... (87)


                                               Rangel Alves da Costa*


Diante do desespero de Crisosta, a visitante angelical se apressou a dizer, quase atropelando as palavras:
“Mas não, pelo amor de Deus esqueça isso, você não morreu não. Ouça-me bem: você não morreu, está viva como jamais esteve. Olhe, sinta, veja tudo ao redor, abra os braços, respire, sinta a vida, pise o chão, sopre no ar, pule se quiser, cante, cante bem alto se quiser. Faça o que desejar, pode provar a si mesma e verá que realmente não morreu. Os mortos não continuam corporalmente como você está, continuando no seu lugar, na sua moradia, diante de tudo que tanta admira. Os mortos não possuem essa sua saúde, disposição, beleza física, tanto brilho no olhar, tanto pomar na face, tanta coisa bonita que você tem...”.
“Mas o que aconteceu comigo então? Por que, enquanto anjo como diz e sei que é pelo que sabe da minha e tudo que aconteceu comigo e com minha família, vai aparecer logo diante de mim e não de outras pessoas mais adiante? Olhe, adiante a ao redor tem gente que precisa de anjo mais do que tudo. Por todo lugar tem gente sofrendo, desesperançada, cheio de angústia e aflição. Então por que não foi encontrar com outra pessoa e sim diante de mim?”. E Crisosta continuava em tempo de desesperar.
Mas a visitante pediu calma que iria explicar tudo, e prosseguiu dizendo:
“Porque você foi a escolhida, simplesmente por isso. Certamente as outras pessoas não vivem sozinhas como você, não ficam dia e noite entristecidas, cheias de pressentimentos ruins, entrecortadas de dores, angústias e sofrimentos. Bem sei que as outras pessoas são pobres, têm uma vida difícil demais, mas não deixam de dar sorrisos, de ter esperanças, de sair por aí, caminhar, conversar, planejar, viajar, superar as dificuldades da vida. E você já tentou dar um passo diferente para mudar sua situação de silêncio e de solidão?...”.
De cabeça baixa, Crisosta tinha os olhos molhados de lágrima, mas fazia tudo para não derramá-las. Via a máxima certeza naquilo que a visitante dizia, não podia negá-la diante de uma realidade tão cruel. Era assim mesmo, vivia assim mesmo, mas não que gostasse de ser e viver assim. Mas como fazer, o que fazer, qual a saída para mudar essa situação? A respostas começaram a chegar com as palavras seguintes que começou a ouvir:
“Crisosta, moça bela de todo o sempre, ninguém poderia ficar feliz com você vivendo assim. Aos olhos dos homens tudo se transforma em pena, mas aos olhos de Deus não. Deus não quer, não gosta e nem permitirá que você viva assim, continue assim. Deus lida com todo isso como exemplos nos seus filhos, mas ele despreza palavras como dor, lágrima de sofrimento, qualquer tipo de sofrimento, angústia, aflição, tristeza e uma série de coisas que ele mesmo sabe, e muito bem, que nenhum ser humano merece. Mas existem como balança na vida, como pêndulo, como caminhos que são ladeados por flores e espinhos. E ele, o bom Deus permite que tudo isso continue existindo para que o ser o humano, ao errar, pague com tais sentimentos pelo erro cometido, ou mesmo que se sinta abalado para dosar uma vida que não é somente de festins. Mas com você é diferente, com você ele logo lançou o olhar sob pena de perder para a morte aquela que na terra é exemplo de honradez, integridade, comedimento moral e espiritual. Creia Crisosta, mas você é quase sem pecados, e isto é muito difícil de se ter na vida terrena. Além disso, Deus logo viu que tinha de agir imediatamente perante sua pessoa. Daí que não fez outra coisa senão tirá-la dessa vida por alguns dias e assim procurar renová-la espiritualmente para os caminhos da normalidade, da felicidade, da paz aqui no seu lugar ou em qualquer outro...”.
Ao ouvir que Deus então resolveu tirá-la da vida por alguns dias, Crisosta se sentiu totalmente paralisada. Atônita, queria falar e não encontrava palavras, queria fazer qualquer e sentia a força lhe faltar. Com muito esforço, se afastou um pouco e de costas perguntou:
“Já que Deus fez isso, então por que não me deixou morta?”. E foi a vez da visitante se espantar com o que ouviu. Realmente não estava esperando uma indagação assim, lhe faltou a palavra imediata, a palavra exata. Olhou rapidamente para o alto, pediu forças ao Senhor e em seguida abriu a boca para dizer:
“Porque nos portais que você entrou lá em cima nenhum levava à morte, mas todos à vida. Quer que eu diga o que você encontrou adiante dos portais do céu?”
Continua...  

 
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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