SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

CARTINHA CHEIA DE SAUDADE (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Não sei nem começar, com esse aperto danado do lado de cá. Quero dizer, quero gritar, quero confessar, mas queria mesmo voar, ser passarinho e num instantinho lhe abraçar.
Mas já que tem de ser assim, que eu comece enfim. Meu amor, daí receba um abraço daqui. E daquele tão apertado que o rosto fica colado e não quer mais apartar.
Saudade danada, um aperto, uma pontada, coisa de causar desacerto. Nunca sofri tanto assim, nem sei se estou mais em mim com essa tristeza sem fim.
Acredite no que agora digo, o tempo é inimigo, a distância um cruel desabrigo. Nada traz felicidade vivendo nessa saudade, sofrendo sem piedade. Quero voar sem ter asa, não passo voltar pra casa, mas faço isso ou queimo em brasa.
É você de noite e de dia e é quando tenho alguma alegria, pensando no seu sorriso, nesse corpo paraíso, amar o que mais preciso. Cartinha é só pra lembrar, mas nunca como falar bem juntinho a lhe abraçar.
Nunca esqueço você, mas hoje bateu uma saudade, lembrança sem piedade, que ou escrevia essa cartinha ou a noite me aporrinha. Estou tremendo agora, lágrima botando fora, tristeza que chegou sem demora.
Escrever não quer dizer nada, pois bom mesmo era a estrada para estar com você. Mais que meu bem querer, o que sinto por você nem eu mesmo posso saber. A única coisa que sei é que sem você não viverei.
Tão longe daí, tudo difícil aqui, sofrendo sem merecer. Aí pertinho de você, mesmo o padecer era coisa açucarada, era um tiquinho de nada, pingo de sal na cocada. Fartura de felicidade, desejo por caridade e tanto amor de verdade.
De tanto pensar, logo começo a lhe desenhar. Desenho no pensamento, no traço que me alimento para diminuir o tormento. Risco uma boneca bonita, toda vestida de chita, vento tomando o cabelo, sorriso de tanto zelo.
Vejo na face uma fruta de sol, na água dos olhos eu pescando de anzol. Boca com sabor de araçá, no resto do corpo a melhor fruta que há. Manga, cajá, sapoti, de toda fruta há em ti.
O vento acompanha seu passo, um roseiral espalhado em cada braço. Cada pisada no chão e a brisa começa a soprar com paixão. Tenho ciúme sim, até quando a natureza se encanta com sua beleza. Não sou o seu dono, mas por precaução nem penso em sono.
Linda no entardecer à janela, a vida olhando a mais bela donzela. Com olhos tristonhos perdidos em sonhos, quem dera me guardando na mente como boa semente, quem dera sentindo saudade de quem sente amor de verdade.
Penso na janela fechada e você na cama deitada, penso na porta encostada e você na rede espalhada. Penso no que possa sonhar e se no sonho eu possa estar. Penso em você saindo, você sorrindo, você andando, você voltando. Penso em você namorando...
Ai quanto me dói pensar assim, pois seria o meu fim. Imaginar você segurando outra mão, não só desfeita ao meu coração, mas a vida inteira de maior aflição. Não, meu amor, que nunca aconteça, que eu nunca mereça ser traído e desapareça.
Confio em você demais, beijar outra boca sei que seria incapaz, mas o mundo é cheio de tentações, lastreando em tudo as devassidões, amores desfeitos e só restando ilusões. Que tudo seja diferente, seja um amor confiante, sem que nenhum rompante impeça que sigamos adiante.
Mando uma fotografia, retrato tirado outro dia, mas que na face não tem alegria. E você sabe o porquê, o motivo de tanto sofrer, dessa distância que me faz padecer. Mando ainda uma lembrancinha, abra com cuidado e no quarto sozinha.
É apenas um anel. Quem dera um paraíso, um céu. É apenas um anel, reluzindo a saudade de um amor tão fiel. Com um beijo, um favo de mel.
  

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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