Rangel Alves da Costa*
As considerações que se seguem não objetivam enxergar a vida como algo ruim, carregada de negativismos ou exposta simplesmente aos malefícios que cotidianamente se acumulam. Não. Contudo, também não é um canto de louvor diante das dramáticas situações.
Mesmo o mais otimista dos homens, ou seja, aquele mais esperançoso e crente que tudo sempre estará em perfeita ordem e harmonia, inegavelmente tenderá a temer pelas ocorrências cotidianas e a desacreditar na resolução de muitos problemas que vão surgindo, e aos montes.
Neste aspecto, tornar-se pessimista não é apenas antever o caos ou ter a certeza que o pior realmente vai acontecer, mas simplesmente encarar a realidade como ela lhe surge desnuda e, sem paixões ou tendências, nela reconhecer o desacerto dos homens em quase tudo que faz. Assim, basta encarar os desdobramentos que tomam as situações de vida para não ter mais motivos para achar que dias melhores virão.
Caracterizado pela visão negativa de tudo que rodeia o indivíduo, fazendo com que não sinta nem veja nada de bom ou promissor diante da realidade, o pessimismo é doutrina e concepção que se ajusta perfeitamente aos que não creem no progresso material e moral, na melhoria das condições sociais, econômicas, políticas etc. E muito mais.
E o pessimismo estará não apenas naqueles que não creem nas possibilidades positivas do mundo, mas também, e principalmente, naqueles que reconhecem as realidades presentes como situações desmoralizantes, injustas, covardes, desumanas, entremeadas de atitudes e ações impensadas de serem realizadas por seres humanos normais.
É a visão do absurdo que torna o ser num descrente, indignado, revoltado. E ao pensar assim já estará enveredando pelos caminhos do pessimismo. Sentir medo pela certeza da insegurança, ter de forçadamente desconfiar de quase todos que passam adiante, sentir enojamento e indignação diante do noticiário televisivo, espantar-se a cada passo com a violência cotidiana, tudo isso vai enraizando profundamente os sentimentos pessimistas.
Algumas situações corriqueiras servem para demonstrar como o homem é levado, mesmo sem conhecer seu conceito e como psicológica e comportamentalmente atua, a ser pessimista e a viver segundo seus ditames negativistas. Primeiro exemplo. Tem gente que não sai de casa com medo de andar pelas ruas. Por duas vezes caiu em calçada escorregadia e decidiu caminhar somente pela rua. Foi atropelado. Daí que da porta da frente tudo pode lhe causar grave dano.
Segundo exemplo. Votou num político que foi eleito e depois se envolveu num desses escândalos que acabam não dando em nada. Na eleição seguinte escolheu outro candidato que, despreparado e omisso, acabou sendo a maior vergonha para o seu eleitorado. O próximo escolhido lhe negou a mão estendida e faz de conta que só conhece gente de sua laia pra cima. Resolveu não votar mais em ninguém. Hoje nenhum político presta, nenhum vale nada, tudo farinha do mesmo saco. Acabou se transformando num pessimista político.
Ainda com relação à política, vem o terceiro exemplo. Um jovem cheio de sonhos e de pensamentos revolucionários se filiou a um partido e começou a empunhar fervorosamente sua bandeira. Panfletava, pregava boca a boca e em megafones, espalhava ideias de ser aquele partido o eficiente motor para as grandes transformações sociais.
O tempo foi passando, a agremiação crescendo, elegendo, se tornando um cabide emprego para os partidários, e ele continuando vivendo apenas de sonhos. Enquanto os outros recebiam sem trabalhar, ele ainda se alimentava de quimeras revolucionárias. Um dia que a fome apertou e sentiu na pele que ideologia não dá casa nem comida, jogou fora sua bandeira e seus livros vermelhos e resolveu entrar numa dessas igrejas de inflamado pastor.
Na igreja escolhida, aos poucos foi percebendo como a religião é usada para negativar os poderes cristãos e alavancar as forças do mal. Eis que outra coisa não ouvia senão sobre os poderes do mal, a seu enorme influência na vida das pessoas, o ser humano como um reles escravo da força das sombras. E nada de falar no nome nem nos poderes de Deus.
Assegurou-se, então, que aquela igreja - tão igual às outras de mesmo discurso e estratégias - usava aquele artifício para incitar nos fiéis suas fragilidades e, após despojarem suas forças espirituais, delas usufruírem ao bel-prazer, tirando-lhes centavo a centavo. Uma igreja usurpadora e pecadora.
Desacreditou da vida, da religião, desacreditou em tudo. Passou a não se olhar no espelho porque também não acreditava no homem. Só acreditava na grande farsa que é o mundo. Mas não era pessimista. Apenas realista.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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