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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 11 de março de 2019

Palavra Solta - a sibiteza da viúva



*Rangel Alves da Costa


Guméria enviou ainda nova e pareceu de luto fechado e para a vida inteira. E continua assim. Vive toda de preto, com lenço também preto na cabeça, olhar sempre chorosa e feição entristecida de causar compaixão. Contudo, dizem as más línguas que tudo isso não passa de fingimento. E até provam a sibiteza da viúva. Dizem que ela da porta da frente pra fora é uma coisa, mas outra totalmente diferente da porta da cozinha adiante. E assim por que é pela porta dos fundos que ela sai - totalmente transformada e irreconhecível - para os forrós e as festanças. Toda cheia de batom e no rouge carmim, toda saltitante e de roupa florida, toda perfumada e cheia de bijuterias, toda cheia de más intenções. Chega nos forrós e não tem mais mulher nenhuma. Dança a noite inteira, rebola sem parar, bebe mais que um gamba. E se faz de novinha pra namorar. E não quer velho não, só menino novo e cheio de safadeza. Depois disso, e de fazer coisas inapropriadas à descrição, ela retorna toda cambaleante, alcoolizada, com o batom espalhado pelo rosto inteiro. Na manhã seguinte, após sair pela porta da frente, aquele mesmo luto e aquela tristeza sem fim. É por isso mesmo que de vez em quando um gaiato diz: “Lá vai a quenga veia se fingindo de viuvez!”.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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