*Rangel Alves da Costa
Já é noite e agora chove. Um silêncio de
chuva que muito me agrada, ainda que os sentimentos sejam mais despertados
pelos pingos que caem. Noturno chuvoso é assim: melancolias derramadas a me
tomar por inteiro. Noite chuvosa é assim: saudades e nostalgias em correntezas
e encharcamentos. Na vidraça molhada não há coração desenhado nem frase de amor
de um dia, sequer de angústia ou desilusão. Da janela aberta, apenas o olhar
para o mundo molhado adiante. Não haverá lua nem estrelas brilhando no alto.
Adiante do portão, os pingos avançando sobre minha pele e sobre a aridez da
solidão. A rua parece nua, os gatos não passam, os cachorros não ladram. As
crianças não brincam nem as vizinhas tomam as calçadas para cuidar da vida dos
outros. Portas e janelas fechadas, chão molhado, uma luz no asfalto caída do
poste. Esqueci meu lenço no varal, mas não quero chorar. Mas chove, e chove por
todo lugar. Lá fora e dentro de mim.
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