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quarta-feira, 11 de maio de 2011

EX-AMOR? (Crônica)

EX-AMOR?

Rangel Alves da Costa*


Em primeiro lugar, não creio que seja correto denominar um relacionamento do passado de ex-amor. Se persistir sendo ex também persistirá sendo amor, pois este não se desfaz facilmente. E se continuar sendo amor não será ex, pois simplesmente amor, ainda que não mais no convívio amoroso.
Em segundo lugar, creio cegamente que todo relacionamento que acaba e se torna em ex-amor é porque a relação deixou de existir, mas não o amor. Como afirmado, não é qualquer briga ou desavença, qualquer ciúme ou aporrinhamento que tem o poder de descaracterizar aquilo que foi construído com o coração.
Verdade é que muitas vezes os namorados, os casais, os amantes brigam, se afastam, se separam, desfazem a relação, mas nem por isso qualquer um terá razão ou direito de, repentinamente, afirmar que o outro não passa de um ex-amor. E que amor é esse, que fragilizado demais, parece nunca ter existido já no momento seguinte?
Amor que se preza se fecha de orgulho e ainda por cima não deixa de ter a vaidade e o egoísmo de continuar amando; amor que foi construído como romance e chegou ao querer verdadeiro não admite ser ignorado porque houve uma desavença, pois raízes continuam existindo que são muito maus fortes do que a boca que se abre simplesmente para dizer de um ex-amor.
Em terceiro lugar, aquele que se refere ao seu ex-amor, se assim achar conveniente, como inimigo, como alguém imprestável, como vagabundo ou safado, por exemplo, não é pessoa digna ao menos de dizer que amou. Após uma relação, que por um motivo ou outro não teve continuidade, não dá razão a ninguém de macular, denegrir ou ferir a imagem do outro.
Nunca será conveniente de uma hora pra outra começar a jogar pedras no outro pelo simples fato de que o amor continua na surdina. Não se reconhece mais como tal, mas não se pode negar sua existência. E tanto é assim que amanhã o mesmo caminho de volta poderá ser feito e o reencontro será ainda mais apaixonado. Então, era ex-amor, não havia amor?
Tais aspectos demonstram que a outra pessoa com quem se deixa de ter uma relação continua merecendo ainda mais respeito do que havia antes. Ora, antes havia uma cumplicidade amorosa onde valia tudo. Agora que estão em caminhos diferentes aquele outro deve ter sua imagem preservada, merecidamente reconhecida como pessoa de grandes virtudes e bom coração.
Não nos parece nenhum acerto começar a ferir por vingança. A própria pessoa que acha que a relação acabou pra valer e pretende encontrar outro amor, não se sentiria bem ter seu nome citado mentirosamente e envolvida injustificadamente em fofocas. Então, é preciso primeiro valorizar o outro e respeitar o seu novo caminho para que também seja respeitado e reconhecido.
Na verdade, um ex-amor é o amor que ainda é, que ainda não teve tempo de ser esquecido, e que tão cedo não será porque amor. Um ex-amor é o amor que floresceu, enraizou, se alastrou e que estará sempre hibernando no jardim do coração. Um ex-amor é o amor da saudade, da tristeza boa, da relembrança dos momentos bons, da vontade que o telefone toque, a campainha desperte, a porta se abra. É simplesmente um amor que não ex, porque não morre se for amor.
Toda essa situação Martinho da Vila resume bem numa música chamada precisamente Ex-amor: “Ex-amor/ gostaria que tu soubesses/ o quanto que eu sofri/ ao ter que me afastar de ti/ não chorei/ como um louco eu até sorri/ mas no fundo só eu sei/ das angústias que senti/ Sempre sonhamos/ com o mais eterno amor/ infelizmente eu lamento, mas não deu/ nos desgastamos/ transformando tudo em dor/ mas mesmo assim/ eu acredito que valeu...”.
E a vontade, o desejo de retornar, é assim descrito por Nando Cordel em Mel e Aveloz: “Eu não sei viver sofrendo/ deixa disso e vem me ver/ Vamos tentar novamente amor/ Não existe eu sem você/ Tua falta me tonteia/ Tira o sal do meu viver/ Teu amor pegou na veia/ Causa dor, mas dar prazer/ Eu quero de novo beber todo o mel/ E renascer qual aveloz / Gemer toda dor, gozar todo o gozo que somos nós/ Eu não sei viver sofrendo/ deixa disso e vem me ver...”.

Mas quem sou eu pra falar de ex-amor, se amo e amarei sempre todos os amores.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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