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terça-feira, 3 de maio de 2011

NOSSOS TIRANOSSAUROS (Crônica)

NOSSOS TIRANOSSAUROS

Rangel Alves da Costa*


Não há como negar que em determinados momentos ou situações, nossos comportamentos são os mesmos do homem em estado de selvageria, dos bárbaros, dos incivilizados. Digo mais: agimos com o mesmo instinto de violência, brutalidade e destruição dos tiranossauros.
Ouso afirmar que muitas vezes somos muito mais indóceis do que os próprios tiranossauros e mais próximos à ferocidade extrema dos seus parentes mais agressivos, os igualmente carnívoros Giganotossauro (Giganotosaurus carolinii) e Carcharodontossauro (Carcharodontosaurus saharicus).
De repente, não nos reconhecemos, nem os outros nos reconhecem em situações tão extremas, pois somos inexplicavelmente agressivos, ferozes, carnívoros sem devorar, amedrontadores, enfurecidos, praticamente insanos. Somos verdadeiros dinossauros, tiranossauros, gigantonossauros, carcharodontossauros e todos os sauros que a situação permitir.
Dizer que de vez em quando deixamos à mostra as mandíbulas dos nossos tiranossauros interiores é menosprezar a espécie, pois estes são fichinhas diante das muitas ações que tiramos do nosso mundo perdido para situá-las diante de qualquer um, ainda que não tenha nada a ver ou simplesmente apenas esteja tentando assustadoramente fugir das nossas garras mais que afiadas.
Ora, somos pensantes, racionais, astuciosos, estrategistas, vingativos. Sem que as nossas presas tenham condições de se defender já a destruímos e muitas vezes com uma só palavra, um só gesto, sem precisar agredir corporalmente ou arrancar-lhe a cabeça com uma mordida.
Como observado, os tiranossauros muitas vezes até que são bichinhos de estimação, inocentes demais perto de nós. Conhecido também por Tiranossauro Rex, era apenas o rei dos répteis tiranos. Nada mais do que uma espécie de dinossauro carnívoro e bípede, um carniceiro como os atuais urubus, que viveu no fim do período Cretáceo, principalmente na região que é hoje a América do Norte. De uma coisa ele era muito bom, que era fazer emboscada para atacar suas presas. Mas isso fazemos muito melhor.
Fazemos muito melhor e muito mais. O dinossauro ou todos os sauros que vive em nós é sedento do outro por natureza, vive buscando minar-lhe todas as forças, arrancar-lhe todas as forças vitais, tirar-lhe o máximo que puder, e simplesmente porque ninguém se conforma nem com o que é e o que já tem nem com nada que os outros possam ter além do que possuímos.
O tiranossauro que buscamos dentro de nós para agir não se contenta apenas em ser agressivo, violento, bárbaro, mas também em expressar sua verdadeira irracionalidade mortal através da mentira, da fofoca, da aleivosia, do mau-caratismo, da canalhice, da vingança, do medo, do terror, da chantagem, da iniquidade, da falsidade, da agressividade.
Nenhum tiranossauro olhava e sorria para outros dinossauros da mesma espécie e ao mesmo tempo os apunhalava pelas costas; não tinham o prazer de destruir, de arruinar o outro, de tirar-lhe a própria vida senão por questões de sobrevivência. E para nossa sobrevivência temos que animalizar o mundo e fazer de tudo e de todos nossas presas?
Talvez devêssemos reencontrar cada vez mais nossos mundos perdidos, nossos elos antepassados, mas não para buscar suas armas onde elas estiverem mais contundentes e afiadas, mas apenas para saber que as civilizações e os progressos tiveram por base um mundo cruel e perigoso e não podemos continuar nos comportando como a pior das espécies, praticando aquilo que aos olhos é mais doloroso.
Deveríamos ser apenas gente, pessoas, uma espécie civilizada, e não continuar como tiranossauros, giganotossauros e carcharodontossauros e todos os sauros. Mas infelizemnte há ainda um humanismo no elo perdido que ainda não foi encontrado.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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