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terça-feira, 10 de maio de 2011

MANUAL DO CANALHA (Crônica)

MANUAL DO CANALHA

Rangel Alves da Costa*


Como já afirmado em outro texto, canalha é a vileza em pessoa que se espalha em meio à raça humana, principalmente rodeando onde estão os homens de bem, na medida da dignidade de suas atitudes.
Com mais fôlego, diria que o canalha é aquele abjeto e abominável ser humano que finge ser seu amigo para puxar-lhe o tapete, apunhalá-lo pelas costas, ter o prazer imensurável de olhá-lo sorrindo e ao mesmo tempo tramar na mesma visão tudo que seja ruim.
Não se contentando com pouco, o canalha, tal qual um ser verdadeiramente onipresente, pode estar denegrindo a sua imagem em diversos lugares ao mesmo tempo. Eis que por onde passa deixa no seu rastro um balaio de maldades e mentiras a seu respeito.
Não tendo vida própria nem o que fazer, pois sua única preocupação é com os outros, denegrindo, ferindo, prejudicando, num segundo atrás pode, através de uma única palavra ou de um escrito, tentado, por exemplo, que você tão cedo não tenha paz nem sossego.
É próprio do canalha receber você na maioria alegria e entusiasmo do mundo, dizer que tinha acabado de falar a seu respeito, mas em seguida desvia logo o assunto para outro que não tem nada a ver. Logicamente porque estava abrindo sua cova, metendo o pau, esculhambando, inventando todo tipo de mentira com relação a você.
É bem característico do canalha jogar o seu nome na lama e depois ainda ter a petulância de lhe alertar que aquele ou aquele outro estava entregando seu nome às moscas. E diz ainda que o defendeu como pôde, pois jamais iria aceitar que alguém dissesse um tantinho assim de quem conhecesse há tanto tempo e pode comprovar a honradez.
Tem a cara do canalha chegar pra você, fazer perguntas e mais perguntas sobre outra pessoa e depois sair correndo contar que de sua boca ouviu verdadeiras misérias. E inventa que você disse que o outro não é de confiança, que é mais falso que Judas, que por onde anda só serve para arranjar inimizades com suas atitudes deploráveis.
Canalha que é canalha tenta, a todo custo, preservar esse conceito. E o faz forjando amizades, chegando aonde não é chamado, soltando a farta lábia, querendo chamar toda atenção para si. E por que faz isso? Ora, para ser aceito e reconhecido no grupo. Uma vez estabelecido, então começa a praticar aquilo que ele mais gosta e sabe fazer, que são canalhices.
É canalhice chegar para o seu patrão e como quem não quer nada dizer que soube por alto que você não é nem nuca foi de confiança, dizer ao mesmo patrão que sua vida é desfazer da imagem dele por onde passa, espalhar boatos só pelo prazer de ver o circo pegar fogo, convidar você pra beber só para ver se de sua boca alcoolizada sai aquilo que não deveria sair, e mais, muito mais.
É ainda canalhice observar tudo que você faz somente para ver se flagra no cometimento de algo errado, aproveitar um momento de dificuldade para chantagear, tentar descobrir fatos do seu passado para torná-los ameaçadoramente presentes. E também chegar para você e dizer que andou sabendo de umas coisas que certas pessoas gostariam muito de saber, falar um monte de inverdades e ferir e depois dizer que por favor releve aquele momento impensado.
Todo canalha é extremamente covarde, e eis um dos maiores perigos. Nunca confirma nada na sua frente, sempre foge de provar o que disse, faz de tudo para se tornar vítima e com isso passar uma imagem de injustiçado, de que simplesmente foi envolvido naquela situação sem ao menos saber de nada. E quando consegue o quer fica da arquibancada sorridente assistindo a confusão, a desunião, às desavenças, as intrigas baratas.
Mas se você chamá-lo de canalha ele se finge enraivecido e parte para a reação imediata. E diz que canalha é você porque sicrano e beltrano disseram e mais alguns confirmaram. E com isto já sabe que você irá buscar satisfação com os outros. Então eis a sua plena realização.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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