SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

VI A LUA!



*Rangel Alves da Costa


Coisa mais besta, alguém poderia dizer. E ainda confirmar: Qualquer um pode avistar a lua na hora que desejar, basta que seja noite ou esteja escurecido e as nuvens permitam.
Mas creio que não seja assim não. E por diversos motivos. Os grandes centros urbanos acabaram com os firmamentos, as estrelas e as luas. Olha-se para o alto e quando muito se enxerga um avião com suas luzes.
As pessoas também perderam o romantismo, o olhar poético, as nostalgias e as sensibilidades. Atualmente, a maioria das pessoas sequer olha mais para o alto depois da boca da noite. Tanto faz que exista lua ou não.
No passado era bem diferente. Mocinhas se debruçavam nas janelas e faziam do luar espelho para os sonhos, desejos e fantasias. Tantas vezes choravam entremeadas de devaneios e amores não acontecidos. Era como se a lua fosse um livro aberto aos sentidos.
Lua mágica, fascinante, encantadora, misteriosa, enlouquecedora. Lua que vagueia na mente, que faz transtornar e padecer. Lua que irrompe os mais profundos da alma e torna o humano num frágil ser em busca de qualquer luz.
Ah, o lobo tem razão. Seu uivo ecoa sofrimento profundo. Sua solidão irrompe em grito alucinante no alto da estepe, nas alturas da montanha. Mas nada ao acaso. A lua sempre presente, sempre como moldura de fundo para esse instante de dor.
O louco também tem razão. Quando a lua grande, cheia, imensa, chega-lhe feito punhal de ponta afiada, então a insanidade alcança seu mais alto grau e outra coisa não quer fazer senão subir ao clarão da lua, abraçar a lua, amar a lua, entregar-se de corpo e alma àquele brilho devastador.
As marés, os mares e as águas, também têm razão. As calmarias se transformam em ondas, estas em furiosas procelas, e tudo ao redor vai sendo dizimado. E tudo por causa da força da lua, de sua misteriosa ação. Um manto que se derrama sobre as águas e nada mais será como antes a partir daí.
Contudo, tamanha força da lua parece não ser suficiente para continuar atraindo a atenção das pessoas ditas comuns. Sequer os poetas buscam inspiração na sua grande e na sua luz. Os enamorados já não fazem de sua auréola uma analogia da aliança que desejam ter.
Ou as pessoas dizem a si mesmas que já têm preocupações demais para se preocupar com a lua. E por isso mesmo não dão mais a mínima ao que acontece lá por cima. Não querem saber se a lua está brilhante, está cheia ou apenas entristecida. Apenas seguem seus caminhos noturnos.
E talvez tenha sido por isso mesmo que hoje eu até me espantei quando me vi voltado para a lua, admirando seu esplendor. Sim, eu vi a lua, eu olhei a lua, eu fiquei admirando a lua. E depois desse instante o mais inusitado. Perguntei-me o que poderia estar acontecendo comigo.
E assim o fiz pela indignação surgida. Que ser humano sou eu que já não tem mais tempo de olhar a lua, de se encantar com a beleza do luar? E então me prometi a fazer da lua de toda noite meu renascimento espiritual.
Uma humanização reencontrada através da lua. Tudo por que nesta noite eu vi a lua. E que bela lua eu vi!


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Ana Bailune disse...

Uma coisa é olhar a lua, e outra bem diferente, é enxergá-la. E há várias maneiras de fazer isso: como um satélite frio, como a lua de São Jorge, a Lua dos namorados, a lua das bruxas...
A minha lua é um lugar mágico para onde eu vou quando durmo.
Bem, eu venho aqui para desejar-lhe um dia de natal Feliz.