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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 1 de outubro de 2011

CONHECIDOS (Crônica)

CONHECIDOS

                                 Rangel Alves da Costa*


Não conheço, não gosto e nem quero pensar que existem, pessoas falsas, mentirosas, que possuem o triste dom de ser de um jeito agora e no momento seguinte já se transformar totalmente.
Conheço muitas pessoas assim. E elas estão dentro da própria família, nas supostas relações de amizade, naqueles que chegam oferecendo uma flor e apertam o meu dedo bem no local do espinho.
Por isso gosto de Schumann, de Lampião, de Carlos Drummond, de Greta Garbo, de Mahatma Gandhi, de Villa Lobos, de Tonico e Tinoco, de Chico Xavier, de Agatha Christie, de São Francisco de Assis, de Evita Perón. Ora, nunca me fizeram mal algum.
Mas não gosto do irmão que só finge gostar quando precisa. Depois não presto, não valho nada, sou isso ou aquilo; fere só por ferir e mais tarde se faz de esquecido. Nem do irmão nem da irmã, primo, sobrinho, afilhado, seja lá o que for. Ora, o que não presta é preciso ser reconhecido como tal, seja na família ou no quintal.
Por isso gosto de Madre Teresa, de Carlos Lacerda, de Churchill, de Antoine de Saint Exupéry, de Clemilda, de Gérson Filho, de Corisco e Dadá, do Conde D’Eu, de Epitácio Pessoa, de Assis Chateaubriand, de Emilinha Borba, de Evaldo Braga. Ora, nunca foram falsos comigo e nem se mostraram ter duas caras. Ao menos comigo.
Mas não gosto do vizinho, nem de frente, do lado ou dos fundos, nem da palavra vizinho gosto. Todo aquele que esquece a sua vida para viver olhando a vida do outro, inventando, mentindo e fofocando não merece nem um bom dia nem uma boa tarde. Quanto mais se aproxima com sorrisinho e doce palavra mais falso é, e por isso mesmo que fique na sua janela ou por trás do seu muro que passo calado.
Por isso gosto de Luiz Carlos Prestes, de Jorge Amado, de Zélia Gattai, do Padre Arnóbio, de Dom Paulo Evaristo, de Dina Sfat, de Alceu Valença, de Sandra Brea, de Chacrinha, de Dolores Duran, da rainha Elizabeth, de Che Guevara, de Procópio Ferreira, de Ascenso Ferreira, de Ariano Suassuna, de José Mauro Vasconcelos. Estes nunca me deram um bom dia, nem sabem ou sabiam que existo, mas também nunca me fizeram mal algum.
Mas decididamente não gosto daquele que só finge gostar quando está precisando de alguma coisa. Não visita para não trazer à frente a lista de precisão, não telefona a não ser para perguntar se tenho isso ou aquilo. Muitas vezes passa por mim e não fala, vai por outra rua para não me encontrar, assim que ouve falar no meu nome logo arruma um jeito de ajudar na crítica desfavorável.
E isso me ajuda a dizer que gosto de T. S. Elliot, de Florbela Espanca, de Cecília Meireles, de Garrincha, de Graciliano Ramos, de Fernando Pessoa, de Olívia de Havilland, de Carlitos, de João Ubaldo Ribeiro, de Odylo Costa Filho, de Dercy Gonçalves, do Mestre Pastinha, de Cid Moreira, de Agepê, de Sivuca. E por que não haveria de gostar de quem é tão diferente daqueles que conheço e que infelizmente ainda estão por aqui?
Mas não posso negar que não gosto daquele que, gostando de mim, não consegue ser verdadeiro só pra me agradar; daquele que deixa lhe faltar para me servir; daquele que baixa a cabeça quando tem que me olhar no olho e dizer a verdade, falar o que pensa, expressar o que deseja; daquele que prefere dizer aos outros o que somente a mim caberia saber. Até perdoo pela nossa imperfeição, mas não gosto não.
E tudo isso me faz concluir que gosto de todas aquelas pessoas, de ontem ou de hoje, que passaram com suas armas, artes e travessuras sem que tenham ou tivessem que me derrubar para passar, para seguir adiante. Por isso mesmo gosto de todos aqueles que são desconhecidos, até que eu os conheça e possa julgar como penso.
Pensaram que eu não falar nem de Deus nem de mim? Só não gosto mais de mim porque não consigo fazer tudo aquilo que a pessoa que mais me ama gostaria: meu Deus!




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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