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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

DAS INCONVENIÊNCIAS DE SER NORMAL (Crônica)

DAS INCONVENIÊNCIAS DE SER NORMAL

                                        Rangel Alves da Costa*


Mesmo que abstratamente, da pessoa espera-se que seja normal perante si própria e as coisas da vida. O problema seria saber o que poderá se constituir como normalidade perante um indivíduo e a sociedade que o rodeia.
Contudo, da experiência se tira logo algumas conclusões. Normal consigo mesma é aquela pessoa que não se sente traída pelas suas próprias ações, que age segundo os princípios de bem-estar e zelo consigo própria, que não tem do que se martirizar ou arrepender-se das suas condutas.
E isto porque é obediente aos mandamentos da igreja, possui um comportamento digno e exemplar perante os demais, gosta de respeitar e ser respeitada, é amiga na medida da retribuição, possui suas crenças e faz da religiosidade um encontro com Deus, não é voltada para os desejos mundanos e se afasta o quanto pode das mentirosas, falsidades, aleivosias e intrigas familiares.
O problema todo parece consistir na sua relação com o outro, com a sociedade, com os anseios desta. Logicamente que no meio social, onde tudo é virado e revirado e sempre anda pelo avesso, o conceito de normal alcança contornos muito diferentes. Há o normal defendido por cada um diante daquilo que faz, e há o normal perante a ação do outro. E o outro nunca age dentro da normalidade que a sociedade requer.
E nunca age porque o contexto social, reconhecido como mentirosamente puritano e conservador, falsamente aliado demais aos bons princípios e a pacificidade nas relações, requer uma coisa do indivíduo, algo inocente puro e maculado, mas age por uma via totalmente inversa. Quer dizer, requer demais do indivíduo e não faz por onde se dar o devido valor.
Basta ver a seguinte situação: A pessoa não gosta de modismos, não freqüenta balada, não anda cheia de pinturas e maquiagens, veste-se simples e comportadamente, faz de tudo para não ser alvo de fofocas e falatórios. Até aí tudo bem, pois pensando que age corretamente estaria imune aos ataques pessoais dos invejosos, fofoqueiros e caluniadores, dentre outras espécies imprestáveis. E eis aí o maior erro, pois o maior prazer da sociedade, das pessoas que dela vivem e se alimentam, é tentar ferir de morte a honra, as características e as qualidades positivas da pessoa que quer viver dentro da normalidade.
Essa normalidade é que dói nas pessoas falsas que povoam a vida. Para estas, não tem cabimento, e por isso mesmo não pode ser considerado normal, que uma pessoa não viva o mundo do desabalado progresso, não procure aproveitar das curtições que o meio oferece, não viva libertando seus instintos pecaminosos e exacerbados moralmente, não tenha uma conduta de total desregramento.
Para o outro, que se deixou levar pelos instintos apelativos da sociedade, nada mais anormal do que uma pessoa querer ser normal, viver apenas a sua normalidade. O círculo vicioso criado em torno da prevalência da anormalidade é tão grande que é preciso ser forte para não se deixar envolver, e logicamente ser levado enxurrada embaixo, diante da força das mãos, conselhos e pensamentos negativos para que o outro se corrompa para ser considerado normal.
Daí terríveis consequencias, coisas impressionantes de se ver e não querer acreditar, ao menos na concepção de uma pessoa normal. Eis que aos olhos dos outros, daqueles descomedidos na vida, a educação, o cumprimento e atenção da pessoa já a qualifica como anormal, metida a besta, querendo aparecer; o gostar da leitura, de passear, de manter bons hábitos é a coisa mais estranha do mundo; não andar na boca do povo, de bunda arrebitada e sendo falada de boca em boca é coisa até para se duvidar da sanidade.
Contudo, os que ainda prezam e jamais renegarão sua normalidade, olham apenas a matilha passar, esfomeada, olhando de lado, querendo ver tudo, farejando uma vítima qualquer. E que coisa mais triste, tantas pessoas vivendo e se alimentando do que os outros fazem ou deixam de fazer. Que extrema anormalidade, verdadeira doença. Mas nesse mundo, infelizmente, é tudo normal.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com  

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