A DISTÂNCIA ENTRE VOCÊ E EU
Rangel Alves da Costa*
Às vezes fico me perguntando qual a verdadeira distância entre você e eu, o que nos separa, se estamos realmente distantes ou lado a lado e não percebemos ainda.
Às vezes me vejo indagando se ao lançar o olhar encontrarei os teus olhos, com sua retina me espelhando na distância que basta erguer o braço para se ter o abraço.
Às vezes, nessas tardes de pedra e de sol fugindo, subo na minha montanha e de lá, depois de uma oração por nós dois, sinto que passa na ventania e se faz nuvem para me molhar de saudades.
E nessas vezes me molho, me banho, me rendo, me faço desnudo e danço a dança dos apaixonados que não podem reclamar da ausência, pois reconfortado para o encontro de algum dia.
Às vezes, e quase sempre, saio medindo os meus passos e penso que a mesma distância daria um encontro, e depois ando mais a mesma extensão já caminhada e paro no lugar onde poderia estar, só pra ter a certeza que fui e que voltarei, pois qualquer dia irei te encontrar.
Outras vezes , quando a saudade, a lembrança e as recordações me fazem sair de mim para buscar você, e nessa viagem tropeço na pressa de chegar, caio sempre na cama espinhenta, no sonho sombrio, no prazer arredio, no ter tão vazio.
E naqueles momentos de silêncio cortante, de janela fechada, de luz apagada, de tudo parecendo já não mais existir, me chega mansamente no pensamento e começo enxergar o quanto dói a solidão e nessa dor estendo a mão para a luz que se faz e peço que não me venha mais se esse ter é mortal ao meu ser.
Porque às vezes converso contigo, digo baixinho ao ouvido tudo aquilo que quero dizer e ouço da tua boca respostas que refletem sorrisos em meu semblante, não pensem que nos encontramos ao acaso e o dito e compreendido é aquilo que nossos corações queriam ouvir. Faço isso sempre e todos os dias, ensaio sozinho essa possibilidade de lhe encontrar um dia e dou tanta veracidade a tudo que poderia ser, que de repente a beijo sem permissão do vento.
Às vezes fico pensando coisas que nem um louco usa mais para tornar mais verdadeira a sua insanidade, ou faz sem querer para tornar irreal a sua realidade. Eis que anoto na agenda a distância que pode estar, quanto tempo gasta até decidir partir e aqui chegar, quanto tempo e quantos passos até a porta quando a campainha tocar. E depois disso não sei medir nem contar mais nada, pois não sei como se mede a eternidade num abraço, a infinitude do amor ao lado de quem se ama, a imortalidade própria do verdadeiro amor.
Daqui, onde estou agora, bastam cinco passos para que me aviste do outro lado do mundo, igualmente cinco passos para te acenar, outros três para chegar diante de ti, mais um para estender os braços prontos para te abraçar, mais um para te envolver, nenhum para não dizer mais nada. Estaremos na mesma linha da vida, na mesma fronteira da existência, seremos apenas um porque conjugado ao outro.
Às vezes não sei se grito para encurtar nossa distância, não sei se silencio para gritar por dentro, não sei se olho para sentir a distância, não sei se cego para não sentir mais distância; não sei se me jogo para cair perto de onde você está, não sei se pulo, não sei se volto, não sei se corro, nem sei se vivo ou morro, por não saber onde você está.
Mas depois de tanto pensar sobre a distância que nos separa cheguei à conclusão sobre os extremos que nos distancia e acolhe. E na mesma certeza que a distância da mão de Deus não impede que ele esteja aqui sobre a minha, tenho a consciência que jamais estivemos divididos, separados ou distantes. É tudo uma questão de querer estar.
Se a nossa distância é delimitada por nós, o infinito e o ponto de encontro dependem de onde queremos ou não nos encontrar. Às vezes você está ao meu lado e não quer estar, outras vezes tão distante e quer me abraçar. E eu, que nunca saio daqui, esperando apenas que decida se quer me enxergar ou não. Eu estou vendo e sinto você. E você?
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário