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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

RECLAMANDO DA VIDA POR QUÊ? (Crônica)

RECLAMANDO DA VIDA POR QUÊ?

                                 Rangel Alves da Costa*


Ora, meu velho amigo de sol, minha boa amiga de chuva, eu que sou de trovoada pergunto: Está reclamando da vida por quê? Reclame não viu, reclame não viu...
A estrada, o chão, a pedra e o espinho, choram em silêncio pelo sol ardente demais, e você ainda passa raivoso e de botinas por cima...
Por isso reclame não viu, reclame não viu...
O zangão sabe que dará um só beijo, fará só uma vez doce amor, depois do abraço apertado cairá morto na colmeia, e ainda assim não fugirá da abelha rainha, sua mortal companhia...
As águas do rio que não passam no mesmo lugar, e por isso se despedem a cada segundo, não fraquejam no seu caminhar e sempre trazem atrás uma lâmina com o mesmo destino...
Por isso reclame não viu, reclame não viu...
O vento bem poderia seguir outro caminho, mas sabe que tem de soprar ao redor do jardim onde as folhas de outono choram por medo desse momento chegar. E ele vem cumprindo seu destino, sem dizer que não, sem poder perdoar...
O orvalho chora a noite inteira porque sabe que não viverá durante o restante do dia, e ainda assim volta na madrugada seguinte esperando que um dia o sol não apareça...
Por isso reclame não viu, reclame não viu...
Passarinho voa, colhe aqui colhe acolá, leva no bico o graveto, leva na pena o pano, segura na asa a linha, transporta nos pés o que encontrar, para formar o seu ninho, ter o calor do cantinho. E vem o homem, e vem o homem...
Vela não apaga no vento se a pessoa tem fé, candeeiro não perde a chama se a pessoa quer luz, a manhã sempre clareia mesmo pra quem não pode enxergar. Mas destino é coisa que não se muda.
Por isso reclame não viu, reclame não viu...
Será que você está vivendo ou ocupando um espaço na terra? Será que se acha digno de ser chamado de ser humano segundo a concepção divina da criação? Ou será que é daqueles que contradizem a vida, porém teme a morte a cada segundo?
Muitas coisas, seres e elementos vivem apenas um segundo na natureza; muitos seres já nascem para morrer em seguida; o que foi gestado é transformado antes de nascer para dar vida a outra ser. E o que significa tanto tempo na sua vida?
Por isso reclame não viu, reclame não viu...
Os bichos falam, sorriem, se comunicam, dialogam, trocam ideias, compartilham situações e sentimentos. Contudo, suas vozes são pios, zunidos, berros, algazarras. E nunca mais ninguém ouviu sua voz dizendo uma coisa bonita...
O leite fermenta e apodrece e renasce novamente em outro alimento; com a massa podre se faz salgadinhos deliciosos; de ossos imprestáveis surgem pentes e botões; as cinzas e o sebo dos animais são utilizados para fazer sabão, que lava as mãos e o corpo. Pessoas existem que deveriam sofrer o mesmo processo de reciclagem.
Por isso reclame não viu, reclame não viu...
A carpideira chora pra sobreviver; você vive chorando sem precisar carpir para sobreviver...
Pacientemente o girassol espera que o sol vá girando até alcançar sua face de flor; mas se você o encontra entristecido rouba-lhe o tronco e nem olha para o sol coberto pelas nuvens. Quando o sol começa a brilha a flor caída dá um último suspiro e morre. Você entende alguma coisa de natureza?
Por isso reclame não viu, reclame não viu...
Dentro do coco partido tem água doce e saudável; o ovo deixa de ser para alimentar e fazer nascer; a nuvem chora para molhar a terra; e o grito da mãe, e o grito da mãe?
Será que o barco volta? Mas ele é agora só um pontinho lá nas distâncias azuis. No cais, no porto, na vida, imenso e imensamente belo é um barco de chegada.
Por isso reclame não viu, reclame não viu...




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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