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domingo, 21 de fevereiro de 2010

HOMENS CARNAIS, MULHERES BANAIS

HOMENS CARNAIS, MULHERES BANAIS

Rangel Alves da Costa*


Por incrível que pareça, o sexo, enquanto ato sexual propriamente dito, se tornou motivo de preconceito. Hoje em dia, na sociedade onde tudo é apelação e desvirtuamento nas condutas, resguardar-se no sexo se transformou em causa de suspeita, intolerância e aversão, termos estes que se enquadram no conceito de preconceito: Denominação genérica de uma série de atitudes humanas, que consistem na formação de um juízo antecipado sobre uma pessoa, geralmente de cunho negativo, baseando-se apenas em crenças impostas pelo meio ou por convencionalismos sociais.
E por que acentua-se cada vez mais essa aversão às pessoas que querem resguardar sua moralidade e sua conduta sexual? Ora, simplesmente porque a maioria dos homens carnalizou-se e grande parte das mulheres banalizou-se.
Quando falo em carnalização quero dizer que os indivíduos veem na ideia da fragilidade da carne um meio para satisfazer incontrolavelmente seus impulsos sexuais, como se o sexo fosse a única e mais importante coisa na vida. Há que se dizer, então, que o homem vê sexo em tudo, quer fazer sexo com tudo, vive do sexo e pelo sexo. O pior é que os impulsos doentios nunca são satisfeitos porque encontram sempre resposta e respaldo positivos aos desejos, ou seja, a banalização faz com que a parceria sexual se torne cada vez mais fácil.
Do mesmo modo, quando falo em banalização afirmo sobre a vulgarização que, infelizmente, grande parte das mulheres chama para si como conduta na vida sexual. Sem um mínimo de respeito a si próprias e até às suas famílias, sem o menor pudor em viverem maculadas pelos olhos e línguas ávidos pela fofoca e pela ânsia de desmoralizar, sem pensar nas conseqüências para a vida futura, simplesmente agem como Messalinas, como as prostitutas mais vulgares, como a Geni da música de Chico Buarque: “Ela é boa de apanhar, ela é feita pra cuspir, ela da qualquer um, bendita Geni...”.
Dessa junção da carnalização do homem com a banalização da mulher, outra coisa não se pode esperar senão a vulgaridade nas relações, a perda dos sentimentos afetivos entre o homem e a mulher, qualquer prazer pelo uso, o sexo como reles moeda de troca.
Atualmente é até mesmo usual que as pessoas “transem” sem sequer saberem o nome uma da outra, que “fiquem” nas noitadas sem que uma saiba como é a feição da outra, que façam “rolar” com o único compromisso de que seus esposos, noivos ou namorados não fiquem sabendo. Infelizmente é esta a realidade prevalecente na chamada era do conhecimento, mas onde as pessoas parecem ter perdido a noção e o valor de si próprias.
Do jeito que a coisa anda, não seria estranho que dentro de poucos anos alguns conceitos sejam totalmente banidos, tais como amor, namoro, paixão, noivado, casamento, respeito, etc. Isto poderá ser confirmado a partir da resposta às seguintes indagações: Haveria ainda lugar para o amor puro e verdadeiro? O namoro continuaria sendo uma forma de construção do amor de uma pessoa perante a outra? Haveria motivação para o casamento com véu, grinalda e todo o cerimonial? O juramente de fidelidade persistiria entre ambos? Respondo sem medo de errar: Não.
E não porque ninguém terá mais o trabalho de paquerar, de buscar seduzir, encantar o outro com palavras e gestos. Não porque o outro não se dará nem o respeito de ao menos ser um pouco difícil. Não porque bastará olhar e, mesmo sem conhecer ou jamais ter visto o outro, ter aceito o convite para ir para cama. Não porque a traição dos homens será desculpa para que as esposas também traiam. Não porque ninguém se respeitará, ninguém estará mais nem aí para o que os outros falem, até mesmo porque os outros serão farinha do mesmo saco ou da mesma safadeza.
Quem dera fosse uma visão pessimista que jamais se concretizasse. Contudo, os mais velhos ensinam que não existe mentira naquilo que está adiante, mas somente os olhos não querem acreditar. E basta olhar ao redor para encontrar os sinais contundentes de que o mundo caminha, irremediavelmente e a passos largos, para a total devassidão. E nunca é demais perguntar: o pretendente ainda manda flores para a menina bonita que está na janela? Não precisa mais.
Conheci duas pessoas que morreram de Aids. Era um lindo casal; quem os visse diria que haviam sido feitos um para o outro. Ele morreu porque transava com qualquer uma sem camisinha; ela morreu porque ficava com qualquer um e transava sem camisinha. Quando descobriram que tinham a doença, um começou a culpar o outro, e isto porque ele usava camisinha quando fazia sexo com ela. Na safadeza da vida lá fora ninguém se preocupava com o uso de nada.



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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