SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

NO REINO DO REI MENINO – X

NO REINO DO REI MENINO – X

Rangel Alves da Costa*


“Antes de se tornar um reino e governadas por um rei, essas terras, até onde os seus olhos podem enxergar, com suas planícies, serras, montanhas, vales, rios, córregos e tudo que nelas se assentam, foram governadas pela natureza e pelas forças nela existentes. Sendo a natureza uma criação divina, a verdade é que essa obra de Deus não foi entregue ao homem para ser maltratada, desprezada ou ultrajada. Daí que até o primeiro instante em que o homem nelas colocou os pés, eram os elementos da natureza que faziam cumprir os desejos do Criador. Após isso, a natureza se tornou apenas parte da geografia do lugar e o homem passou a conduzir seus destinos sem a devida obediência aos mandamentos maiores. A terra se transformou, assim, em impura e vulnerável, frágil e carente de proteção. E quando seu avô aqui chegou, primeiro como humilde camponês até alcançar depois a condição de homem mais poderoso do reino, já a encontrou nessa situação: belíssima, porém carente de habitantes que dela cuidassem e protegessem. E essa situação aos poucos foi se modificando, através do trabalho, da dignidade, do comprometimento e da abnegação do rei Ferdinand, seu avô. Porém, um homem só não faz verão, como diria a andorinha. Por mais que seu avô desejasse o desenvolvimento e a riqueza do povo, seu súdito, a verdade é que as transformações impostas na natureza tornaram as terras mais pobres, mais improdutivas. E sendo a terra o único meio de sobrevivência do homem aqui em Oninem, quando esta não pode sustentá-lo como deveria, é o próprio reino que passa a arcar com as conseqüências. Daí que quando seu pai foi elevado ao posto de rei, a realeza por ele obtida era mais para tomar conta de problemas do que para gerir riquezas. As riquezas ainda existiam e continuaram existindo, porém somente aquelas acumuladas ao longo dos tempos, com as grandes conquistas do reino e com os troféus de fortunas dos reinos que foram derrotados nas desavenças que sempre existiram. O povo estava e continua empobrecido mas o reino continuava rico, mas sem que o rei procurasse dividir um pouco do muito existente com o povo nem investir no próprio povo para continuar forte e temido por todos. Como conseqüência disso, o reino passou a viver somente de aparências, sem guerreiros para defendê-lo e uma população de inconformados. E o que o seu pai infelizmente fez? Se arvorou da fortuna do reino como se fosse sua e, sem condições de enfrentar qualquer força inimiga, fugiu quando uma horda de ladrões bateram à sua porta. Pelos atos reprováveis de seu pai, que demonstrou covardia e traição ao seu povo e ao próprio reino, seria até mesmo caso de Oninem hoje estar totalmente abandonado, mas não, pois os deuses quiseram que você...
- Mas o que eu tenho a ver com isso? – Indagou o pequeno Gustavo, interrompendo Bernal.
“... você, meu jovem abençoado por todas as forças da natureza, não é só o herdeiro do trono por direito e por herança genética, pelo sangue que traz nas veias, mas a partir de agora o proclamo como soberano do Reino de Oninem, a quem caberá o destino de todas essas terras que vê adiante, desse povo e do futuro dessa realeza que o tempo reconhecerá como a mais grandiosa de toda a história da humanidade”, concluiu Bernal, colocando na cabeça do pequeno Gustavo uma coroa de cedro, que é a árvore símbolo da grandeza dos impérios e que têm à sua "sombra tantos povos; sobe até o céu e desce até os infernos, abriga todos os pássaros e todos os animais”, como diz o livro bíblico de Ezequiel.
Neste momento, que ainda era manhã em Oninem, estrelas cadentes recortaram o céu; outras estrelas brilharam fortes no firmamento; o sol e a lua apareceram; o dia e a noite dividiram espaços; os quatro elementos da natureza se fizeram presentes, em gotas de chuva que caíram, na ardência de uma fogueira que se acendeu, no vento que veio carregando poeira e no ar de um novo tempo que começou a soprar; e as quatro estações dando uma feição diferente e especial às paisagens ao redor, e assim era possível enxergar o sol escaldante, flores desabrochando, campos prontos para a colheita e neve embranquecendo o cume das montanhas. Relâmpagos e trovões foram vistos e ouvidos distantemente. Tudo rapidamente, mas reafirmando um pacto da natureza, seus elementos e os seus deuses, com o Reino. A benção divina maioria pairava sobre a cabeça de Gustavo.
No dia seguinte o novo soberano, o rei menino de Onimen seria apresentado ao povo.


continua...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blogragel-sertao.blogspot.com

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