Rangel Alves da Costa*
O tido como suspeito chegou à delegacia assustado, nervoso, vez que nem mesmo sabia por que havia sido intimado a prestar interrogatório sobre acusação tão pesada.
Ao adentrar no recinto, logo foi encaminhado para o gabinete da autoridade policial, o delegado de polícia. Este ficou de pé assim que apontou uma cadeira para o outro sentar. E dando voltas pela sala, começou:
“Então foi o senhor o responsável por aquele terrível acontecimento, não foi mesmo?”.
“Senhor delegado, mas nem sei sobre o que o senhor está falando...”.
“Típico de quem está omitindo a verdade. Não sei de nada, não fui eu, é o que sempre dizem...”.
“Mas realmente...”.
“Quer dizer que não foi você que atentou contra a vida de Pompon Lantô?”.
“Pompon o que?”.
“Pompílio das Lantejoulas, mais conhecido como Pompon Lantô, eis o nome daquele que você atentou contra a vida...”.
“O senhor deve estar com brincadeira, só pode ser. Passei seis meses viajando e cheguei há apenas dois dias, e por isso mesmo não sei nada do que o senhor está falando...”.
“Mas o carro era o seu...”.
“Nem tenho carro...”.
“Tem sim. Um fusca preto de propriedade de Laurentino Pascácio. Não é esse mesmo o seu nome?”.
“Não, pois o meu nome é Laureano Pafôncio...”.
“Já conheço esse álibi. Bate tudo com você, o carro, o nome, até o CPF. O seu CPF não é 010.005.000-00?”.
“Não, o número é totalmente diferente. Ademais, não tenho carro nem o meu nome é esse que o senhor disse aí...”.
“Mas é você mesmo. Três dias antes esteve rondando a casa de Pompon...”.
“Mas meu senhor, já disse que cheguei de viagem há dois dias...”.
“Mas é você mesmo. Estava de touca na cabeça e não há dúvida que aquele era você...”.
“Desculpe, mas o senhor está completamente equivocado...”.
“Equivocado está o senhor que afirma não possuir aquele carro, não ter esse nome e nem o CPF com esse número...”.
“Mas tenho como provar...”.
“Já estará preso antes disso. E se não tiver carro passará a ter assim mesmo, seu nome será Laurentino Pascácio e o seu CPF terá o número que citei. A não ser que...”.
“O que?”.
“Que queira mudar o nome novamente, deixar de ter carro e outro número no documento, mas isto custará caro...”.
“Não estou entendendo...”.
“Está valendo o nome, o carro e o CPF que eu disse, mas se pagar voltará a ser quem realmente você é, com o seu nome verdadeiro, sem carro e com o CPF normal. Quer dizer, voltando a ser quem você realmente é não será mais suspeito de nada...”.
“Mas então o senhor está me propondo que...”.
“Nada. Não faço proposta a quem tenta contra a vida de vulnerável. Já vou encaminhar o pedido de prisão preventiva à Justiça...”.
“Desculpe, mas quanto é para que eu volte a ser eu mesmo?”.
“Quanto você vale?”.
“Uns...”.
“Isso mesmo. Traga o triplo disso ainda hoje. Do contrário...”.
E ao sair da delegacia o homem estava mais desesperado ainda. E o pior, completamente arrependido de ter se valorizado tanto.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário