SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 13 de janeiro de 2019

Palavra Solta – noite no mato



*Rangel Alves da Costa


Noite no mato. Sussurro, desalento e vida. Uma catingueira, uma umburana, uma facheiro, um pé aroeira. É noite, mas as plantas não adormecem. Zunidos, zumbidos, murmúrios. As folhagens para falar, parecem gritar, parecem gemer. Quem avista ao longe, enxerga somente o negrume fechado, solitário, vazio. Mas nada acontece assim. É noite no mato, no mato parecendo adormecido, porém, mais acordado que nunca. O mandacaru faz sua oração de braços abertos, o quipá afia seus espinhos, a urtiga se enche de seus mistérios terrificantes. Tudo na calada da noite. Tudo dorme, mas o mato não. As folhas namoram, namoram, extasiam, esvoaçam, caem, desabam de prazer. Ou de morte morrida mesma. As dores, as idades, o tempo, a tudo desvanece. E tudo tem o seu fim, também no meio do mato. Mas há vida gestando, brotando, abrindo seus úteros em pétalas. E no alvorecer, ao primeiro clarão do dia, as flores, os frutos, as vidas.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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