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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

INIMIGOS OCULTOS (Crônica)

INIMIGOS OCULTOS

Rangel Alves da Costa*


Nem pense que por você ter sido sempre uma pessoa trabalhadora, honesta, reconhecidamente digna e positivamente conceituada por onde passa, não tem uma legião de inimigos ocultos. Tem e até muito mais do que imagina a sua vã filosofia.
E o que é pior é que estão a essa hora e a todo momento tramando contra você, fazendo estratégias para lhe destruir, armando armadilhas para lhe enfraquecer. Na verdade, antes de qualquer coisa querem lhe enlouquecer.
As pessoas vivem tranquilas, despreocupadas, cheias de paz no coração, e nem imaginam as tramas e estratégias que contra si são elaboradas como se fossem os piores inimigos do mundo. Creio que nem nas guerras, nas contendas, nos combates de verdade fazem assim.
É triste, é lamentável, mas enquanto limpam os jardins, fazem os churrasquinhos de fim de semana, leem os seus livros e escrevem os seus versos, lavam e passam as roupas, estão fazendo compras nas feiras ou supermercados, assistindo as novelas, fazendo amor, brincando de namorar, abrindo uma cerveja, tomando um chá, e eles querendo ver suas ruínas, suas perdições.
E não tem jeito. Por mais que você seja fervorosamente religioso, reze dez vezes ao dia para que nada de ruim aconteça, ande com a bíblia embaixo do braço e um crucifixo sobre o peito, tome banho com água benta ou sete ervas, ainda assim eles estarão somando, calculando, dividindo, subtraindo, e tudo para encontrar a melhor fórmula de lhe ver inadimplente, com o nome sujo na praça, não podendo comprar nada porque está cadastrada nos serviços de restrição ao crédito.
Eles estão nos gabinetes ministeriais, nos órgãos de planejamento, que em nome de planejar a política econômica, fazer ajustes cambiais, diminuir o déficit ou seja lá o que for, vão criando regrinhas mínimas que são anunciadas como se não tivessem nenhuma consequencia negativa na vida das pessoas, mas que sempre refletirão de alguma forma na sua conta ou no seu bolso.
Eles estão criando novos impostos, taxas, selos, tributos, pedágios, bilhetes, certidões, aumentando exigências, aumentando a lista de documentos, aumentando os tempos de carência, diminuindo os atendimentos prestados, fazendo voltar assustadoramente a burocracia, exigindo que você prove que está vivo ou que o morto morreu.
Eles estão nas esquinas, nos becos, nas favelas, nos morros, nos condomínios, nas mansões, nas casas de luxo, recebendo a droga, repartindo a droga, pesando, misturando, embrulhando, dividindo em lotes e enviando para ser distribuída aos chefes das bocas e vendida aos usuários, que estão logo ali na esquina, bem próximo de cada um, dentro de casa.
Eles estão nos palácios, nas sedes governamentais, nos gabinetes, assinando as ordens para a declaração de guerra ao vizinho; para invadir um país que não se sustenta por si mesmo e possui uma população de famintos e já destroçados pelas guerrilhas internas ou rivalidades de toda ordem; para tirar milhares de soldados de sua pátria e de suas famílias e enviá-los como suicidas para matar inocentes e morrer como mártires.
Eles estão nos plantões médicos fingindo que prestam assistência; nas igrejas corrompidas e nos religiosos pedófilos; nos policiais que fazem da violência uma prática que assusta a sociedade e faz de vítimas pessoas honradas e decentes; nos gabinetes dos secretários de segurança que aplaudem essas atitudes monstruosas dos seus comandados e não fazem nada nem dão satisfação alguma.
Eles estão em Brasília, eles vivem em Brasília, eles moram em Brasília, e de Brasília dão ordens silenciosas, astutas, ocultas, afirmando que você não vale nada e precisa ser minguado na sua dignidade, destruído na sua cidadania.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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