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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: MARIDO CORNEADO EM CONFISSÃO

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: MARIDO CORNEADO EM CONFISSÃO

                                          Rangel Alves da Costa*



Conto o que me contaram...
Dizem que um marido soube em segredo que estava sendo corneado e no mesmo resolveu que acabaria com a vida do amante da esposa. O problema é que o fofoqueiro disse apenas do fato e não da outra parte envolvida. Então, sem saber quem vivia na safadeza com sua digníssima ficava momentaneamente impedido de tirá-lo da vida.
Pensou, pensou mais ainda, levantou algumas suspeitas e chegou no mínimo a uns dez nomes com grande chance de estar se aproveitando da fragilidade safada de sua dondoquinha. Primeiro mataria o safado, mas quanto a ela daria o maior sofrimento em vida, que era deixá-la sem sair de casa durante dois dias. Talvez três, que era pra ela se arrepender de vez da traição imposta ao tão fiel esposo. Por isso mesmo é que dizem que corno, além de chifrudo e objeto de mangação, fica meio abestalhado.
Mas acabar com a vida de quem? Decidiria isso depois, mas antes de praticar tal ato o corneado resolveu que falaria com o padre sobre esse problema, contaria a ele a verdade e também diria da sua irrevogável decisão. Confessando tudo ao homem da igreja, talvez até que o seu pecado fosse diminuído. Pensou.
Chegou à igreja e encontrou o sacerdote cochilando dentro do confessionário. Bateu na madeira e o religioso abriu os olhos assustado: Quem, onde, como? Foi o que disse no momento, antes de ser interrompido pelo cornuto e sua pressa em falar sobre o adultério e o que pensava em fazer.
O padre era ainda homem jovem, vistoso, bem apessoado, como diziam umas falsas beatas que viviam por ali entrando e saindo da sacristia. E contam coisas de arrepiar sobre essas visitas a qualquer hora do dia e da noite. Mas o padre se ajeitou, colocou a bíblia sobre a mão e mandou que o outro falasse somente a verdade, pois estaria confessando a Deus e não a ele enquanto emissário divino.
E o cornuto começou: Estou sendo traído padre. Minha mulher achou de me botar ponta. E agora me sinto como um imprestável, um ferido na honra e no espírito, uma pessoa que certamente servirá de zombaria não só para o amante como também para os outros namorados que ela possui...
Outros? Indagou o padre, espantado. E imediatamente completou: Você disse outros? Mas ela não me falou sobre isso... O chifrudo achou estranha a observação e perguntou: Então o senhor padre já sabia da traição dela? Pelo jeito sim. Então diga logo o nome desse desgraçado porque vou dar cabo da vida dele hoje mesmo.
O padre se tremeu todinho ao ouvir isso. Deus uma suadeira, um nervosismos que quase não podia mais falar. Mas falou: Meu filho, mas matar é crime e o divino não perdoa quem tira a vida de outro e só porque esse outro fez uma caridade na sua mulher. A bichinha tava tão desolada que tive pena. E então, como também sou homem, não pude suportar aquela saia levantada. E sabe o que acontece se você matar um padre?
Não, o que padre? Perguntou o idiota do corno. E o safado do religioso disse que se ele o matasse toda noite viria pegar no dedão do seu pé. Então o besta se benzeu e disse que não havia problema de o amante dela ser o padre, pois era prova de como ela era devota de corpo e alma.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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