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sábado, 15 de janeiro de 2011

APRENDIZ DE SER FELIZ (Crônica)

APRENDIZ DE SER FELIZ

Rangel Alves da Costa*


Antes que seja tarde, ainda vou aprender o que realmente é essa tal de felicidade.
Tudo o que sei sobre a felicidade me foi ensinado pelas pessoas tristes, pois estas, não a possuindo, fazem do inverso o conhecimento mais profundo que possa existir sobre ela. E também não adiantaria conhecê-la através das pessoas felizes, vez que não há sentido indagá-las sobre tal sentimento, senão sentí-las.
Contudo, imagino que o seu alcance, por ser um direito nato do ser humano, deverá ser possível à medida que o indivíduo não a queira a todo custo e com esse objetivo pule das nuvens à sua procura. Mas sim que vá procurando encontrá-la a partir de pequenos atos e ações, pequenos gestos e emoções, mas sendo sempre o seu próprio jardineiro na sua semeadura e florescimento.
Se olharmos ao redor, praticamente tudo nos chama à tristeza e angústia, ao sofrimento e à dor. É a criança na esquina, é o menino abandonado, é a mãe pedindo esmola, é a fome se alastrando bem ao lado da nossa mesa, a violência pulsando feroz, a desesperança em quase tudo, a vida um absurdo. E a nossa juventude bailando enlouquecida nos desregramentos das drogas, da violência, da prostituição.
Assim, um monte de coisas nos fala sobre coisas tristes e que, consequentemente, geram infelicidades naqueles que têm sentimentos, que avistam criticamente a vida e seu contexto, que não apenas caminham, mas principalmente sentem as pedras que dificultam o caminhar. Essa preocupação com a vida impede sempre o encontro com uma felicidade qualquer, fazendo com que a pessoa de bom coração procure a cada dia aprender como ser feliz.
Como num caldeirão de magia, é preciso ir aos poucos colocando elementos até mesmo estranhos para que cheguem os sinais de felicidade. Na feitiçaria do bem, o feiticeiro tem de, necessariamente, dispor de porções de dor, de aflição, de verdade, de sentimento verdadeiro, de humildade, de perseverança, pensamento positivo e de coragem para enfrentar sempre a realidade.
Ora, mas haveria de se indagar por que tudo isso se o que se pretende é somente a felicidade. Elementar que pensem assim. Contudo, nenhuma felicidade é possível, persistente e duradoura, se não for construída com base naquelas porções citadas. Para exemplificar, sem conhecer a dor ninguém saberá o que seja felicidade; sem conhecer o sofrimento ninguém saberá o significado da felicidade; sem perseverança não adianta encontrar a felicidade.
Mas fora do caldeirão, bem ao lado de cada um, há um receituário enorme com dicas de como ser feliz. Contém coisas parecidas com o admirar a manhã, caminhar pela natureza ao redor, apreciar a beleza das flores, dos pássaros, das folhas caídas pelos jardins, das folhagens esvoaçantes ao soprar do vento. Há coisa melhor que um diálogo com o seu Deus ao amanhecer, agradecendo a oportunidade de estar vivendo e pedindo para que a vida seja cada vez melhor?
Conheço outras bulas com coisas parecidas, com alguns elementos básicos que todo mundo diz que precisa, mas nunca procura com a eficiência e o verdadeiro desejo de encontrar. E qualquer bula fala sobre os milagres que o amor pode fazer, sobre a importância de se viver alegre, compartilhando a alegria com todos e tendo sempre a bondade e positividade no coração. E fala ainda sobre outras coisas que fortalecem o espírito, como o respeito e a dignidade, a certeza de ter ajudado o próximo, o poder deitar e dormir com a mente sem aflições.
O meu manual de aprendiz de feiticeiro tem um segredo que nunca revelei a ninguém e só agora vou confiar-lhes, exigindo somente que passo ao outro como se fosse corrente: Ninguém precisa saber que você é feliz, mas se você for realmente feliz todo mundo enxergará em ti essa felicidade. E então faça de tudo para ser invejado!




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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