A PIOR NOTÍCIA DO MUNDO
Rangel Alves da Costa*
E há muito que o menino vinha definhando de tristeza, com os olhos profundos e distantes e um aspecto de que tanto fazia estar existindo ou não. Era quase um moribundo, diziam uns; parece mais um morto-vivo, diziam outros.
A mãe decidiu implorar pela última vez para que ele dissesse o que sentia e o que desejava que fizessem para se sentir melhor, mais alegre e reanimado para as coisas da vida. E surpreendentemente dessa vez ele respondeu que se sentiria bem melhor se alguém lhe desse a pior notícia do mundo.
A mãe não acreditou no que ouviu, mas ele repetiu que se alguém lhe desse a pior notícia do mundo então poderia se sentir bem melhor, pois uma coisa ruim sempre é prenúncio de coisa boa no futuro. Assim, entristecendo de vez, mais tarde o sorriso poderia voltar a ser estampado no seu rosto.
A mãe ficou pensando e pensando, matutando sobre o que poderia fazer diante do pedido do filho. Ora, tinha de fazer alguma coisa, o que não podia era o menino continuar daquela maneira, gravemente enfermo sem estar doente.
Contou o fato aos familiares e amigos dele e todos se prontificaram a ajudar. O problema era saber como encontrar a pior notícia do mundo para lhe passar a informação. Pensaram em tudo de ruim que poderia existir, mas ainda assim achavam que diante de tantos fatos negativos ocorrendo no mundo dificilmente alguma coisa específica iria abalar de vez as estruturas psicológicas dele.
Então cada um ficou encarregado de pensar naquilo que iria dizer, mas com a condição de que fosse realmente algo inacreditavelmente assustador. Assim, um amigo chegou perto dele, todo tristonho e quase lacrimejando e foi logo dizendo: “Você não sabe como eu me sinto ao ter sido encarregado para dizer isso, mas você vai morrer dentro de uma semana”.
“Olha, mas que coisa boa. Isso prova que eu sou normal, que vivo, pois a morte nada mais é do que consequencia da vida. Triste daquele que não for morrer um dia, pois este certamente não nasceu, não teve a oportunidade de conviver nesse mundo de alegrias e sofrimentos”.
Como visto, tal plano não funcionou como pensado. Então um tio do menino chegou perto dele, abaixou a cabeça, em seguida ergueu-a e olhou nos seus olhos por uns dois minutos e depois disse que infelizmente teria de informar algo muito triste que havia acontecido: “Infelizmente, nesta manhã encontraram a gaiola de seu passarinho aberta e ele não estava dentro dela. Certamente fugiu”.
“Mas que coisa boa tio. Diferentemente do homem, até que enfim o canarinho descobriu que o destino do homem é a liberdade e não a prisão. Que agora, livre, ela possa cumprir seu destino de passarinho e voar por aí em liberdade. Acho que todo homem deveria ser também um pouco passarinho...”.
Mais uma estratégia mal-sucedida. Então seu irmãozinho mais novo, mesmo sem estar envolvido nos planos dos adultos, aproveitou um instante em que ele estava sozinho com sua tristeza doentia e foi se aproximando até que chegou perto e disse: “Se você morrer, você deixa pra mim aquele carrinho azul que você brincava quando era do meu tamanho? O meu quebrou e não consigo mais brincar com ele e não tenho outro brinquedo”.
Ao ouvir isso tão docemente do irmãozinho lhe veio uma tristeza tão grande, num misto de angústia, aflição e saudade, que abraçou o pequenino e começou a chorar profundamente no mesmo instante.
“Ô meu menininho, seu irmão não vai morrer não, e só está chorando porque caiu um cisco no olho. O carrinho é seu, aqueles brinquedos que estão guardados são todos seus. Vamos lá, vamos pegar. Vamos brincar um pouquinho, que eu decidi renascer brincando com você”.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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