A CORNA
Rangel Alves da Costa*
Essa história de cornice é um problema sério. E tão sério que historicamente vem destruindo famílias, ceifando vidas, causando um verdadeiro caos na sociedade. Puritano como o povo é, isso parece até fim dos tempos.
Para certos homens é um verdadeiro desastre; para outros é apenas um desses azares conjugais que pode ser remediado se o fato não cair na boca do povo. Mas sempre cai, e o pior é que o pobre do enganado é sempre o último a saber.
Só pra lembrar, comumente é denominado corno aquele que é traído pela mulher; quando esta se entrega aos reclames sexuais ou amorosos de outro, sem, contudo, desfazer da outra relação estável. Afirma-se que ocorre sempre quando a mulher tem amor demais para dar, por isso dá demais...
Segundo o Aulete, corno é o marido cuja mulher tem ou teve relações sexuais com outros homens (com ou sem conhecimento ou consentimento dele); diz-se de homem traído (sexualmente) pela mulher, ou companheira, ou namorada etc. Para o Michaelis, é o marido a quem a mulher é infiel. Em qualquer das hipóteses, será também chamado de chifrudo, cornudo, galhudo e muitas outras qualificações.
Entretanto, ainda que a maioria sempre relacione a cornice ao homem, vez que neste é mais fácil ridicularizar a traição passiva, verdade é que o fato também pode se dar inversamente, ou seja, a mulher também pode ser vítima da traição. E tal fato é tão comum que nem sempre gera consequencias maiores.
Mas não somente isso, pois a traição de fato, elemento material da cornice, também pode ocorrer também entre pessoas do mesmo sexo que tenham relacionamentos amorosos estáveis. Nesse contexto é um deus-nos-acuda, pois as respostas podem chegar a violências extremas.
Nesse sentido foi que sucedeu uma história bastante curiosa numa cidadezinha, proeza esta que até hoje é conhecida como a história da mulher que levou ponta da outra e com o marido. Em outras palavras, a história da sapatona casada que foi traída e virou corna da amante e do próprio esposo.
Contam que na cidadezinha havia uma moça que mais parecia a manhã ao nascer de lindeza. A rapaziada do lugar não sabia o que fazer para obter ao menos um sinal de esperança amorosa da mocinha. Verdade é que ela nunca foi vista com namorado, mas sempre acompanhada de outras moças.
A família dela, contudo, achava que ela já estava em idade de casar e então procurou providenciar o maior partido do lugar, que era outro rapazinho bem apessoado e filho de família da mesma estirpe. Assim, ela casou somente para satisfazer a família, pois sentia que o seu negócio era outro e até mantinha uma relação apaixonada com uma das amigas.
A moça vivia com o marido, mas mantinha encontros freqüentes com a outra. O marido não desconfiava de nada porque até gostava que a amiga da esposa estivesse sempre em sua casa, vez que já estava de olho nela. Até que um dia, em outro lugar, ele jogou a maior lábia para a moça, namorada de sua mulher, e esta caiu no papo.
Assim, essa mocinha continuou tendo, ao mesmo tempo, só que em momentos distintos, um caso com o marido e a esposa. Só que um dia a esposa não estava em casa e então ele resolveu manter relações sexuais com a outra ali mesmo, na cama do casal.
Não prestou não, pois a mulher chegou de repente e quando abriu a porta do quarto encontrou o marido e a namorada no maior amor. É impossível relatar a cena, mas pode-se imaginar a baixaria da pobre mulher corneada duas vezes, pelo marido e pela amante.
Só se sabe que a mulher teve de sair da cidade, pois descobriram a verdade sobre o caso e onde ela passava tinha de ouvir coisas como “sapatão traída” e “corna duas vezes”. Mais tarde, morando com a amante, traía esta com o ex-marido.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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