VOCÊ NÃO ENTENDE NADA DE AMOR
Rangel Alves da Costa*
Digo e confirmo: você não entende nada de amor. Muito menos eu. Não entendo, nem um pouquinho, mas sei que você também não entende, e vou dizer por quê.
Em primeiro lugar, a perfeição e transcendência do amor é tão grande e tão profunda que certamente não está ao alcance de seres humanos que mal sabem o que é respeitar o outro, gostar e conviver com amabilidade.
Eis a razão com Roberto Freire ao afirmar: “Quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a qualificá-lo e quantificá-lo, já não está amando”. Quem pensa que esta amando está, na verdade, querendo possuir. Nada mais do que isso.
Em segundo lugar, transformaram o amor num sentimento qualquer apenas para dar satisfação aos cálices amorosos tantas vezes derramados. Daí que olha para outra pessoa e já diz que está amando, acabou de encontrar o verdadeiro amor de sua vida, a grande paixão acabou de ser conquistada.
Tudo erro e ilusão, a mais pura banalidade amorosa. Isto porque por mais que o amor esteja sendo construído há longos anos, embaixo do mesmo teto, dormindo na mesma cama, tendo um relacionamento estável, respeitoso e carinhoso, ainda assim ele não foi alcançado.
Afinal de contas, ninguém domina o outro de modo que queira domar seu coração; ninguém tem as chaves dos desejos do outro; ninguém pode impedir que alguém traia em pensamentos, o que já é um passo para a traição pessoal. Ademais, cadê a tão propalada confiança mútua?
Você já ouviu a música “Depois do prazer”? Aquela que diz assim: “Tô fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração vai ser pra sempre teu... O que o corpo faz a alma perdoa, tanta solidão quase me enlouqueceu... Vou falar que é amor, vou jurar que é paixão e dizer o que eu sinto com todo o carinho pensando em você...”. E mais adiante a letra ainda diz: “Já não sei quem amou, que será que eu falei, dá pra ver nessa hora que o amor só se mede depois do prazer...”.
Pois bem. Essa letra é a mais clara caracterização do conceito de amor que muitas pessoas têm atualmente. Tais pessoas, pensando que estão envolvidas no círculo da validade amorosa, propagam absurdos como “fazer amor”, “trair de corpo e deixar o resto puro para o outro amor”, “falar que é amor por falar”, “já não sabe se amou ou o que fez”. Ora, mas estão refletindo exatamente os valores perseguidos em nome de um tal amor.
Em terceiro lugar, a fortaleza em que repousa o amor possui uma antessala que muitos confundem com o castelo inteiro. Nesta antessala está o carinho, a afeição, o gostar, o desejo e até a paixão, coisas que nem se aproximam do amor. E não se aproximam porque isso é tudo volúvel e passageiro, não suportando sequer qualquer descontentamento, qualquer instante de aridez entre duas pessoas que se dizem amar.
Há também que se observar que o amor não zumbe, não grita, não faz estrondo nem estardalhaço, muito menos fofoca ou sai por aí dizendo mentiras e inverdades. O amor é silencioso, casto, invisível, quase que inacessível. O amor é humildemente tudo, sem ter de provar ruidosamente o que é.
A ele têm acesso certos pais, certos filhos, certos irmãos, certos amigos, certos companheiros e namorados. Ainda assim apenas imaginam o sentimento de amar, mas sem, contudo, delimitar o alcance desse amor.
Por último, direi que somente o coração saberia dizer realmente o que é amor. Porém temo que ele, de tanto ser usado indevidamente, ande meio confuso com tantas paixões repentinas que surgem a cada instante.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail,com
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