INDIGNAÇÕES NECESSÁRIAS
Rangel Alves da Costa*
Acho que não sou muito diferente das pessoas ditas normais, mas tenho certeza que me assoma um senso de revolta e de indignação que certamente não será fácil de encontrar nos outros.
Verdade é que certas coisas existem que chegam ao cúmulo do absurdo, ao ápice da hipocrisia, ao auge da insensatez, às alturas da idiotice. Lógico que aceito o pensar, o fazer e as opiniões dos outros, mas nem por isso posso dizer que agem corretamente.
Ora, não há que se admitir que pessoas que se dizem normais, tenham qualquer senso crítico ou vestígios de que realmente são racionais, de repente tenham suas vidas transformadas com a exibição de um desses BBBs da vida.
Soa ridículo as pessoas nas ruas com o rosto lambuzado de sorvete e pastel, vendo crateras aos seus pés e lixo espalhado por todos os lugares, comentando para a comadre ou compadre sobre o futuro dos deuses globais. E a vida minha gente, e a vida?
De repente, uma Geisy Arruda da vida ou um ex-BBB se transformam em celebridades, com fãs-clubes e chiliques a torto e a direita. Qual foi o Salmo que um desses admiradores leu hoje? Por acaso já abriram alguma vez na vida uma Bíblia? Certamente também encontrarão um paredão no Apocalipse.
Por acaso alguém se preocupou, comentou ou leu sobre os últimos relatórios da ONU sobre a educação, a saúde, a preservação do patrimônio histórico ou a degradação ambiental? Quem foi o laureado com o último Nobel de Literatura? Nessa guerra do fim do mundo, alguém já leu um livro de Vargas Llosa?
Outro dia mãe e filho - realmente por não terem o que fazer – amanheceram embaixo do prédio onde mora um ex-presidente, em São Paulo, vestidos de cima a baixo com as cores petistas, empunhando bandeiras e entoando músicas de campanha, implorando por tudo na vida, chorando de se acabarem, para que o homem aparecesse.
Agora me digam: um país formado por gente desse tipo, eleitores desse tipo, pode ser chamado de sério, desenvolvido ou que tenha alguma esperança? Mãe e filho são apenas exemplos, pois quantos não existem por aí que acenderam velas e fizeram promessas para que a turma do mensalão, da roubalheira e do apadrinhamento continuasse no poder?
Dificilmente há uma família que não possua no seu contexto algum problema com a droga, com a prática de crimes ou com os modismos perversos do mundo moderno. Contudo – e não é raro acontecer -, mães desesperadas chegam às delegacias implorando para que prendam os seus filhos porque não suportam mais vê-los levar todo os dias um objeto do lar para trocar pelo crack.
Ora, meu Deus, vício em droga não é doença? E por que o governo não aprende a ler a Constituição que diz que a saúde é um dever do Estado: “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
Entretanto, diariamente, a imprensa noticia o descaso governamental com quem necessita de atendimentos básicos de saúde, evidenciando-se a incapacidade do Estado no tocante ao cumprimento de um dever constitucional e direito social de todos os cidadãos (CF, arts. 6º e 196). Verdade é que o Estado não está preparado para atender os cidadãos que
dependem de tratamento médico como única possibilidade de manutenção da vida.
Então, por que lutam tanto para vencer eleições e representar o Estado, se enquanto governo a incapacidade de resolver os problemas está mais que comprovada? A resposta é uma só: Para manter privilégios partidários, fazer farra com os cargos à disposição, promover meios fraudulentos de gestão e depois querer tapar o sol com a peneira.
O pior é que conseguem. Não só conseguem como saem endeusados e elegem seus sucessores na cota de Ali Babá.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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