DESCONHECIDOS – 3
Rangel Alves da Costa*
Escondido em sua caverna na montanha, Aristeu, o profeta, desconhecia totalmente a existência de Soniele, a bela prostituta que “fazia vida” no cabaré de Madame Sofie numa cidade muito distante dali.
Registrada em cartório com um nome religioso, não revelado neste momento simplesmente porque sua dona não quer expor sua verdadeira identidade de jeito nenhum, verdade é que esta é conhecida no metiê como Soniele, de codinome Jasmim de Fogo, a prostituta novinha que dá de dez em muita patricinha.
Vivendo atualmente na cidade de Mormaço, nasceu num lugar bem distante, em outra região, cerca de dezoito anos atrás, talvez menos um pouco do que isso. Fazia de tudo para ter uma aparência mais velha, mas não tinha jeito. Parecia uma adolescente indecisa na vida.
Mas ela não era assim de jeito nenhum, pois sabia muito bem o que queria. E o que queria era estar abrindo as pernas pra um e pra outro no cabaré mais chique da cidade, por vontade própria e se entregando a qualquer um desconhecido como se fosse o maior amor de sua vida.
Às colegas de profissão dizia que tinha certeza de ser muito diferente de todas elas, pois não se prostituía por necessidade ou dinheiro, mas simplesmente porque gostava de quengar, de trepar com qualquer um que tivesse uma aparência jovial.
Já havia acontecido de, ali mesmo no cabaré de Sofie, ir para o quarto de graça com quem tivesse se engraçado e pagar do próprio bolso pela utilização do ambiente. Tinha medo de se apaixonar por ser assim tão “absolutamente amorosa”, como segredava às mais íntimas.
O seu encontro com o mundo da prostituição, diferentemente das histórias que tanto se ouve, falando em acasos e circunstâncias, foi por puro desejo, por vontade própria, pois tinha certeza que se fizesse o que pretendia há algum tempo atrás ia acabar dando nisso.
Eis que Soniele, a Jasmim de Fogo, após ultrapassar as quinze primaveras resolveu chegar para um primo uns dez anos mais velho e dizer que queria que ele tirasse a sua virgindade, e naquele mesmo instante, no local mais próximo e confortável que encontrassem.
Então, mesmo sendo casado e pai de dois filhos, o rapaz nem pensou duas vezes diante daquela agradável surpresa e levou a priminha para as pedras de um riachinho de água corrente que havia nas proximidades do lugarejo. Ali, no entardecer bonito da vida interiorana, Soniele se entregou sem amor e devassidão.
Sem amor porque não queria tê-lo como amante, não era apaixonada pelo primo nem nada, apenas porque decidiu e escolheu-o para ser seu primeiro homem. A intenção era outra sim, a de provar se o sexo era bom mesmo como tanto comentavam e daí em diante fruir com assiduidade de suas delícias.
O coitado do primo gostou tanto da inusitada experiência familiar que se apaixonou perdidamente pela mocinha, mas sem jamais conseguir arrastá-la novamente para as pedras do riachinho ou outro lugar. E ela foi sincera ao negar os seus rogos ao dizer que tinha sido somente aquela vez e pronto, que esquecesse do que tinha acontecido.
O problema é que ela não queria mais o primo, contudo não deixou de dar continuidade à experiência sexual. E assim foi sendo passada por meio mundo da molecada do lugar e sentindo cada vez mais voracidade pelo sexo, e com prazer. Quando o rapaz soube que ela não queria mais ele, porém dava a sicrano e beltrano se virou num cão.
Ainda apaixonado, resolveu usar a estratégia da chantagem e foi procurá-la dizendo que se ela não transasse com ele o seu pai, o famoso Antonho Cabrunco, iria saber de tudinho o que a filhinha dele andava fazendo com um e outro.
“Vá, pode ir, mas aqui só come quem eu quiser. E você foi o primeiro a comer e já devia se dar por satisfeito. Agora é a vez dos outros aproveitarem também. Não acha não? Se quiser ir contar a ele pode ir agora mesmo, só assim vou fazer logo o que estou pensando”. Foi a resposta sorridente da mocinha.
Não naquele momento, mas o rapaz acabou contando ao ignorante pai o que estava ocorrendo, omitindo logicamente que ele tinha sido o primeiro. Ao retornar para casa, depois de ter visitado o cemitério com Julinho, ela encontrou sua roupas jogadas na frente da casa.
Já sabia do que se tratava. Dali mesmo seguiu sua vida.
continua...
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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