SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 9 de janeiro de 2011

NOSSA SENHORA DO SERTÃO (Crônica)

NOSSA SENHORA DO SERTÃO

Rangel Alves da Costa*


Cada uma com o nome próprio, segundo o lugar das aparições ou pelo acolhimento da santa como padroeira, verdade é que existe Nossa Senhora para todos os gostos, devoção e religiosidade. Contudo, trata-se sempre da mesma Virgem Maria, mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aquela mesma que deu à luz o pequenino numa manjedoura em Belém.
Tem-se notícia de quase uma infinidade da Santa. Nesse sentido, há Nossa Senhora Aparecida, Medianeira, da Achiropita, Anunciação, Auxiliadora, da Abadia, da Agonia, da Assunção, da Aurora, da Batalha, da Boa Viagem, da Boa Morte, da Esperança, da Conceição, da Candelária, da Divina Providência, da Evangelização, da Estrada, da Glória, da Guia, da Luz, da Misericórdia, da Paz, da Penha, da Piedade, da Revelação, da Soledad, da Ternura, da Vitória, das Candeias, das Dores, das Lágrimas, das Graças, das Mercês, das Vitórias, de Mont Serrat, de Fátima, de Guadalupe, de Loreto, de Lourdes, de Nazaré, Desatadora dos Nós, do Bom Parto, do Bom Sucesso, do Bom Despacho, do Brasil, do Carmo, do Desterro, dos Anjos, dos Navegantes, do Patrocínio, do Perpétuo Socorro, do Pilar, Mãe da Eucaristia, Mãe dos Homens, Menina, do Horto, do Rosário, Rosa Mística, Santa Maria a Maré. E outras, muitas outras Nossa Senhora. E todas originárias de Maria de Nazaré, Mãe de Jesus de Nazaré.
Mas não se pode esquecer que há também Nossa Senhora do Sertão. E é venerada por todo o povo sertanejo, este compreendido como os habitantes da região semi-árida do Nordeste brasileiro, numa extensão de 868 mil quilômetros, abrangendo o norte dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, os sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e uma parte do sudeste do Maranhão.
Com o seu poder de onipresença, dizem que apareceu a três pessoas em lugares diferentes e ao mesmo tempo. No momento das aparições cada um destes lugares apresentava uma condição climática diferenciada. Em um a seca era inclemente, com mais de dois anos sem cair um pingo de chuva, num estágio onde a desesperança já havia tomado conta de tudo. Noutro chovia, porém a chuva era pouca, talvez somente para juntar água de dois dias no tanquinho e reacender a esperança do sertanejo. E no outro era apenas sertão com todas as suas feições, com gota de chuva e raio de sol se misturando às vezes sim e às vezes não.
Como dito, três pessoas receberam o dom divino de serem agraciadas com a aparição da Santa, daí em diante conhecida e devotada como Nossa Senhora do Sertão. José, também conhecido como Caboré, um menino de oito anos, morador numa região de extrema aridez na terra e onde o sol parecia presente até no meio da noite. Salustiano, também conhecido como Mestre Salú, um velho artesão de sela e gibão e todos os instrumentos de couro tão usuais no mundo caipira. E Maria Gercina, também conhecida como Maria do Riachinho, uma lavadeira da região agreste e que levava a vida abrindo cacimba pra encontrar água salobra para lavar roupa por encomenda.
Sete horas da manhã Caboré havia saído para catar umbu nas redondezas de sua casa, num pequeno terreno nas vastidões do sertão sergipano. Umbu era a única coisa que àquela época dava naquela mataria. Goiaba nem pensar, manga e caju de jeito nenhum. E quando o menino se aproximou do umbuzeiro de sempre, já amigo de suas andanças, avistou embaixo de sua copa uma luz diferente, parecendo uma pessoa que estava em meio a um clarão azulado. Como o menino não tinha medo de nada, se aproximou um pouco mais e viu uma voz saindo de um rosto perfeito: “Sou Maria, mãe do Homem e do Sertão, implorando ao Meu Filho pela sua salvação!”.
No mesmo horário Mestre Salú, com aproximadamente mil quilômetros de distância do menino Caboré, levava um couro de boi para deixar de molho por três dias nas águas de um pequeno poço que havia aberto nos fundos da sua casa, devidamente destinado a esse fim. Coincidentemente, o tal poço ficava nas proximidades de um pé umburana centenária. E o homem teve a mesma visão, da luz surgindo uma bela e angelical figura de mulher, expressando em palavras doces: “Sou Maria, mãe do Homem e do Sertão, implorando ao Meu Filho pela sua salvação!”.
O mesmo ocorreu com Maria do Riachinho, lá nas brenhas do sertão pernambucano, bem no instante em que se preparava para tirar água da cacimba para lavar suas roupas. Sentiu alguma coisa diferente ao redor e ao levantar os olhos uns cinco metros adiante viu a Santa Mulher iluminada, sorrindo como a dizer que não tivesse medo. Então em seguida ela ouviu as mesmas palavras: “Sou Maria, mãe do Homem e do Sertão, implorando ao Meu Filho pela sua salvação!”.
A data desses eventos foi a 03 de maio, ocasião em que se comemora o dia do sertanejo. Diferentemente do que ocorreu com os meninos de Fátima, quando por certo tempo fizeram pacto com o silêncio após a aparição de Nossa Senhora, os sertanejos escolhidos para avistarem a Santa espalharam pela região o acontecido, e o povo que já se caracterizava pela extrema religiosidade se tornou ainda mais fiel devoto da Santa e muito mais do seu Filho.
E hoje em cada lugar, em cada cidade, em cada casa, em cada oratório desse mundão sertanejo há uma imensa igreja construída no coração do seu povo em homenagem a Nossa Senhora do Sertão, bondosa mulher que um dia disse: “Sou Maria, mãe do Homem e do Sertão, implorando ao Meu Filho pela sua salvação!”.
Mas a Santa não disse somente isso não, pois a seguir, diante dos três, deixou uma pequena mensagem: “Dias melhores virão para aqueles que acreditam que a vida não é só de chuva e sol no sertão, pois toda fartura será nada se não houver Deus no coração!”.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: