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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

COITADO DE POÇO REDONDO! (Crônica)

COITADO DE POÇO REDONDO!

Rangel Alves da Costa*


Hoje em dia não, pois a cidade quase não existe mais, de tão feia, suja, esburacada e totalmente deteriorada e descaracterizada que está, mas há algum tempo atrás tentaram até tirar de Poço Redondo algumas coisas que lhe restam de significativas.
Nesse sentido, tudo fizeram, por exemplo, para diminuir o tamanho do município, dividir com Canindé do São Francisco o local da morte de Lampião ou mesmo transferir para lá o local da tragédia de Angico, extinguir a sede de sua Comarca, retirar-lhe a fama de ser o local que mais filhos cedeu para o cangaço e, por fim, tentar acabar com a cidade de vez, como efetivamente está buscando a atual administração municipal.
Para os que não lembram, quando o prefeito do vizinho município de Canindé do São Francisco era Genivaldo Galindo, este empreendeu os maiores esforços para aumentar a área do seu município. Para tal contratou serviços especializados para refazer a medição dos reais limites entre os dois municípios e assim demonstrar que os dados constantes do IBGE estavam incorretos.
Com efeito, o trabalho foi realizado mas apresentou um resultado totalmente indesejado para o prefeito. Foi constatado que havia erro sim, porém indicando que a área territorial de Poço Redondo era ainda maior. Tal cálculo também foi refeito pelo IBGE. O que antes era 1.119 passou a ser 1.232 km² (área da unidade territorial/2010 - http://www.ibge.gov.br/cidadesat).
Mas o que objetivava Galindo com tal atitude? Simplesmente transferir para a área de Canindé a Gruta de Angico. Aumentando o tamanho do seu município, logicamente que os novos limites iriam além do local onde tombaram Virgulino Lamipião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros naquela fatídica madrugada de 28 de julho de 1938.
Entretanto continuam lutando para mudar, talvez num passe de mágica, a Gruta de Angico para Canindé. Não conseguiram através da revisão dos limites, então o que fazem é pagar aos órgãos de imprensa para que, ao noticiarem sobre o local – que é importante ponto turístico -, passem a ideia de que o mesmo fica em Canindé. E assim é feito aos olhos e ouvidos de todos e ninguém da administração poço-redondense se manifesta. Até Piranhas, no outro lado do rio, quer deixar Poço Redondo a reboque da história.
O episódio envolvendo a tentativa de extinção da Comarca de Poço Redondo é mais recente e por isso mesmo ainda está presente na memória da população. À época escrevemos o seguinte: “A presidência do Tribunal de Justiça do Estado queria por que queria extinguir a comarca do município (projeto neste sentido chegou a ser enviado ao legislativo estadual) sob a alegação de que o lugar é muito pobre, distante da capital, as carências são visíveis em todos os sentidos e os digníssimos magistrados em início de carreira simplesmente não querem trabalhar lá. Em síntese, o TJ-SE vê Poço Redondo como um estorvo, como uma ovelha negra que não necessita da tutela judiciária estatal. Discriminação, preconceito, aversão ao sertanejo”.
O artigo prevendo a extinção da Comarca, após ampla insurgência da sociedade sergipana e da classe política, foi retirado do Projeto de Lei Complementar 04/90, contudo a prestação jurisdicional continua a pior possível, com poucos juízes permanecendo mais de dois meses para dirimir os conflitos e impossibilitando uma eficiente tutela jurisdicional, vez que um processo que em um ano passa pelas mãos de diversos magistrados nunca é julgado nos prâmetros esperados de justiça.
Outro fato desabonador dessa faminta tentativa de desqualificar Poço Redondo se deu com a declaração de um ilustre pesquisador do cangaço, o pauloafonsino de São José do Egito João de Sousa Lima, ao afirmar que após anos de pesquisas tinha chegado à conclusão de que era Paulo Afonso, e não Poço Redondo, a localidade que mais havia cedido gente para o bando de Lampião. Ora, venhamos e convenhamos, mas existem coisas que só fazem a gente desacreditar ainda mais em certos pesquisadores.
Observem esta notícia publicada no site Bahia em Foco de 04/08/2010: “De acordo com o pesquisador e escritor João de Sousa Lima, Paulo Afonso serviu como uma das cidades que mais forneceu cangaceiros para os grupos, tomando a coroa da cidade de Poço Redondo-SE, que ficou conhecida como a capital do cangaço, por ter visto 28 filhos da terra seguirem Lampião e seus subgrupos. Em suas descobertas para a confecção do livro “Lampião em Paulo Afonso”, João de Sousa constatou e enumerou 31 cangaceiros e cangaceiras oriundos da cidade de Paulo Afonso” (http://www.bahiaemfoco.com/portal/cultura/paulo-afonso).
Ora, o pesquisador não deveria catar a torto e a direito um arremedo de possíveis cangaceiros vez que a história é testemunha daquelas pessoas que efetivamente estiveram à serviço das lides cangaceiras. Para citar um exemplo, Durval Rodrigues Rosa, que não participou do bando de Lampião, e o seu irmão Pedro de Cândido, não estão incluídos na lista de filhos de Poço Redondo que foram para o cangaço. Mas somente estes dois nomes já jogam por água abaixo as pretensões do pesquisador pauloafonsino. E quem não conhece a importância dos dois nessa trama sertaneja?
Não bastasse tudo isso, ainda há que se deparar com o maior dos absurdos, que é a tentativa, a todo custo, de destruição da cidade pela administração municipal. Pasmem, mas é o próprio governo municipal que quer acabar com o município! Destruição sim, porque não seria outra coisa quando se constata a sede municipal com ruas que mais parecem cratera lunar, totalmente esburacadas e intransitáveis até mesmo para se caminhar.
Passeando pela cidade parece que se presencia um campo devastado por uma guerra terrível. Praças esquisitas, mal conservadas, com tudo caindo aos pedaços; outras praças que continuam existindo somente no nome, como a Frei Damião. A podridão invadindo os arredores do mercado da carne, uma imundície disforme onde estão colocadas as mesas que servem para os feirantes, no local onde deveria ser construída uma quadra multiuso ampla e moderna.
Essa política do quanto pior melhor deixa indignados aqueles filhos da terra que veem o progresso e as melhorias chegarem a todos os lugares, em todos os municípios ao redor, e somente o seu berço de nascimento continuar entregue ao descaso e abandono. Monte Alegre é exemplo da transformação, enquanto Poço Redondo é da destruição. Canindé nem se fala, que é uma metrópole diante de um barraco.
Quem te viu, quem te vê, Poço Redondo! Mas cada município tem o destino que o seu povo escolhe. Assim foi e assim será!



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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