CANÇÃO DA MINHA TERRA
Rangel Alves da Costa*
O que será do homem se não conviver lado a lado com o presente e o seu passado? Daí que este canto surgiu do suor das minhas recordações da vivência nos sertões, desde que deixei por lá tantos sonhos e ilusões.
Quando arrumei mala e cuia, tomei a última fubuia e vim viver na capital. Mas Aracaju não fez mal, só me fez compreender que ao sertão não há igual.
Formado, doutor e tudo, aprendi que o estudo não se cansa de chamar para a gente pesquisar outros temas sem cessar. Assim, ao lado do meu direito e outras áreas de respeito, devoto imenso pleito a grande investigação sobre a vida e os causos do meu querido sertão.
Mesmo sendo filho de lá, muito tenho que estudar para ir nascendo a certeza de que não basta assuntar para entender o lugar e tudo que nele há. Na distância há outra realidade, e mesmo com a saudade, o cabra começa a perceber que tudo viu sem nada vê.
O cabra lê sobre a estiagem e então começa a entender que nela já fez viagem. Lê sobre Padim Ciço, Conselheiro e Lampião e acha tudo espantoso, maior admiração e só aí vai lembrar que já viveu no altar, que já fez lá do Angico verdadeiro passear.
No mundo de cá é coisa de espantar, só pra quem quer pesquisar o outro mundo de lá, bem pertinho, bem ali, mas é como o fim do mundo lá estivesse a dormir. E de repente, quando a realidade grita, então se corre atrás da vida aflita e no sertão vai de visita.
Aqui não tem disso não, meu irmão, mas se prestar atenção lá ainda se respeita santa missão e procissão, toada e vaquejada, aboio e rapadura, moça cheia de candura, rezador e tocador, violeiro e arteiro, lavrador e pescador, rendeira e cozinheira, parteira e varredeira, doceira e até fateira, mais velho que conta história e menino que quer guardar na memória.
Se fico longe muito tempo de saudade arrebento e pego logo a estrada, e nessa doce caminhada me ponho logo a imaginar como será bom alguns amigos encontrar. Todos de pés fincados na terra vivendo a sua guerra para sobreviver, para ganhar o tiquinho pra meninada comer.
E esses amigos vou reencontrando por todo lugar, embaixo do pé de pau, no bar, saindo para o trabalho, da lavoura a retornar. Outros avisto mais distante, em situação circundante que parece nunca mudar: no carro de boi a carrear, no cavalo magro a passarar, nos quintais a matutar sobre a vida e o que virá.
Em meio a esse mundo, de prazer tão infecundo, aprendo a lição do dia, que é fazer da alegria enxada e enxadeco pra enterrar a agonia. Não há como não sofrer, mas deste sentir nascer uma certeza maior, que é a sina do sertão e assim é o seu sol.
Nisso tudo me ajunto e me misturo, que é pra ver se seguro o jeito do jeito de lá, que é pra quando estiver cá e estiver a estudar aquela vida e vagar, jamais me surpreender se leio tanto sofrer de um povo sem merecer.
Essa vida no sertão é paisagem por tradição do poeta popular, que busca inspiração naquela imensa vastidão para criar seu cordel, o aboio do menestrel, traçando retrato fiel do homem e seu plantel.
Eu nunca fui cordelista, nem de um longe um artista, mas por conhecer fui contar rimando nessa poesia popular só com base na saudade, coisa boa que invade, saudade do meu lugar.
Benção, Poço Redondo, benção o meu sertão! Pra lá voltarei um dia, aqui fico mais não!
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário