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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

VERDADES AMOROSAS QUE SÃO MENTIRAS ESCABROSAS (Crônica)

VERDADES AMOROSAS QUE SÃO MENTIRAS ESCABROSAS

Rangel Alves da Costa


A expressão latina “amantes amentes” não deixa negar: os amantes são doidos. Significando que aqueles que estão sob um sentimento muito forte não raciocinam corretamente. E não somente isto, pois perdem a exata noção das coisas, confundem verdades e mentiras e se deixam iludir por qualquer palavra ou gesto premeditado daquele que diz amar tanto.
Um lado desse corpo indivisível dos amantes parece viver noutro mundo, de ilusórias fantasias, planos irrealizáveis e promessas que só acreditam aqueles que realmente perderam a noção da realidade.
Certa vez um espertalhão disse que logo casariam e iriam morar num imenso castelo como rei e rainha e a pobre inocente se danou a juntar moeda a moeda para comprar uma legítima coroa.
São coisas assim que nos deixam pasmos, sem querer acreditar em tantos absurdos observáveis em determinadas relações amorosas. Pode acreditar, mas certamente ainda existem muitas mocinhas que sonham com príncipes que chegam a cavalos alados.
Outra acredita que viverá um eterno amor com um moço lindo que chegará a sua janela com um lindo buquê de flores, que viverá em perfeita união ao lado do seu grande amor e nada jamais interferirá negativamente, num mundo de beijos e abraços, paz e harmonia.
O problema é que as pessoas que observam tais absurdos não podem fazer nada para mostrar um pouco da realidade aos iludidos e apaixonados. Não adianta porque encontrará somente inimizades, com respostas dizendo que o único objetivo é atrapalhar a vida dos outros, tentar apagar tantos sonhos de felicidade.
Padre Astolfo era useiro e vezeiro em alertar as mocinhas sobre isso nas missas dominicais. Não tinha um sermão sequer que não houvesse um espaço para ele falar sobre o que chamava de verdades amorosas e mentiras escabrosas.
Reafirmava em alto e bom som, fazendo as apaixonadas corar dos pés à cabeça, que o grande mal do amor é acreditar que ele irá resolver todos os males, quando por detrás se esconde uma teia de mentiras e traições.
E muitos dos ensinamentos do velho sacerdote podem ser assim sintetizados:
Ora, o que é amor, senão uma palavra formada por quatro letras, como do mesmo modo é o medo, o ódio, a pena, o tudo, o nada, o caos, a vida, o tapa, a sina? Se pretendem que o amor seja tudo na vida, há que primeiro compreender a vida e depois saber o que devem amar.
Para muitas pessoas apaixonadas, certamente as flores, os presentes, as ilusões embrulhadas e as promessas veladas possuem o verdadeiro dom da palavra que o próprio falar não possui. Encantam-se com tudo isso e não procuram ouvir o porquê de tantas dádivas e tantas graciosidades, cabendo ganhar valor a máxima vulgar de que esmola demais o cego desconfia.
O amante parece o verdadeiro homem do tempo, o meteorologista, o historiador e até o adivinhador. Contata com a pobre inocente e diz que não pode encontrá-la naquele dia porque irá chover; remarca o noivado porque irá fazer um estágio num local bem distante; não poderá ter aquela conversa importante com os seus pais porque está com sintomas de quem irá adoecer. E o pior é que ela acredita uma, duas, três, tantas vezes ele quiser arrumar desculpas esfarrapadas.
Ora, ele diz que nunca mais empresta sua camisa ao amigo para que a roupa não fique novamente suja de batom; já disse às suas amigas que nem cheguem muito perto dele quando estiverem com perfumes fortes, que é pra não ficar parecendo que ele está cheirando a perfume de outra mulher; já disse ao seu irmãozinho menor que parasse com aquela brincadeira de estar colocando camisinhas na sua carteira; mas aquele bilhetinho comprometedor só podia ter sido brincadeira de mau gosto do seu colega de trabalho. E ela ainda acredita, ainda vai acreditando nisso tudo.
E quando chega o instante que ele não está suportando mentir mais, até porque também não está suportando tanta maluquice e inocência dela, vai chegar e dizer que tudo está acabado, e pronto. O problema é ela cair na real, começar a acreditar. E então começa outro estágio penoso, que é a loucura de amor. E aí cumprirá sozinha sua sina.
Assim, tudo e nada numa sina. Tudo com quatro letras, como o amor.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Toninho disse...

MUITO BOA RANGEL.ESTA COISA MEIO SONHADORA E ABESTALHADA,rsrs tem levado muita gente a melancolia e depressao.Belo desenvolvimento amigo.Meu abraço e que o novo ano seja de muito sucesso e paz no coração.Seu livro como está? Um abraço de paz e luz.