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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A DÚVIDA (Crônica)

A DÚVIDA

Rangel Alves da Costa*


Um amigo meu está terminando de escrever um livro, até me mostrou os originais. Dei uma lida e achei tanto o texto como a história maravilhosos. O lirismo, e muitas vezes a poesia aflorando em cada linha, não conseguem afastar a voracidade da obra, a gritante aflição da trama.
O problema é que os originais não me foram repassados com o final do romance, com o desfecho da história. Tal fato encheu-me de dúvidas e logo procurei o autor para saber se ele poderia me dar alguma dica sobre o final.
Então foi a vez dele me dizer que aí é que estava o problema, pois nem ele sabia, mesmo já tendo escrito mais de dez finais diferentes, qual deveria escolher. E disse ainda que foi por isso que me pediu para ler aqueles originais e assim eu mesmo pudesse indicar qual melhor desfecho poderia dar à bela história.
Disse imediatamente que então não haveria mais problemas, pois diante da trama eu já sabia o que poderia fechar a história com chave de ouro. Contudo, antes que eu propusesse o meu final pedi a ele que mostrasse alguns daqueles desfechos que já havia escrito. E não demorou muito e o escritor trouxe-me o material.
Contudo, antes de falar sobre o que a autor havia escrito, acho melhor fazer um breve resumo da história criada e escrita por ele. Vamos lá:
Num reino imenso e de extrema riqueza, deslumbrante de belezas naturais, com potencialidades inimagináveis de fauna e de flora, infinitos campos produtivos e de um incomparável povo lutador, havia um rei muito querido, adorado e endeusado por todos, mesmo o império que comandava sendo dividido em ricos e pobres, sendo os ricos extremamente ricos e os pobres extremamente pobres. Mas tudo que esse rei fazia o povo aceitava. Se o rei aumentasse os impostos o povo aplaudia; se desse esmolas para enganar a fome do povo, este aplaudia ainda mais; se o rei aceitasse que os homens que viviam ao seu redor fizessem as maiores roubalheiras e falcatruas, o povo não só aplaudia o rei, mas dizia que ele estava imune a qualquer acusação porque era inocente; se os opositores do rei dissessem que o rei também tinha culpa pelas roubalheiras que estavam acontecendo, o povo simplesmente desacreditava nas acusações e aplaudia e começava a chorar pelo rei. Assim, o rei se fazia de inocente, os seus amigos roubavam descaradamente os cofres do reino, e o povo, enganado com pão e circo, outra coisa não fazia senão aplaudir, orar e chorar pelo rei. Até que um dia o rei, envergonhado pelo que seus amigos faziam na sua cara e ainda assim não tomava nenhuma providência, resolveu deixar o poder. Então marcou eleição para que os súditos escolhessem qual seria o seu sucessor dali em diante. Assim, dois nobres se apresentaram para disputar o trono: um candidato do rei e outro da oposição. Contudo, eis que durante a disputa o povo descobriu o que os amigos do rei realmente faziam, o quanto eles viviam roubando, e que o rei também era culpado por ter aceitado aquilo tudo e dizendo sempre que não sabia de nada. Então, em quem os súditos votaram para suceder o rei, o seu candidato, que fazia parte de sua corja, ou o outro, o seu opositor?
Assim, o meu amigo escritor já havia escrito, por exemplo, que o povo faria uma revolução e tomaria o poder; que o povo, revoltado, saquearia o palácio e aprisionaria os ladrões do reino, inclusive o rei; que o povo deixaria esse reino e iria tentar a vida em outras terras; que o povo escolheria o candidato da oposição.
Então fui muito rápido e sincero com o meu amigo e disse-lhe que conhecia uma história igualzinha àquela, e no lugar que aconteceu o povo emudeceu, ensurdeceu e cegou de vez. E o rei corrupto virou santo.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Paula Baiadori disse...

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