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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

COMO VENCER O BBB (Crônica)

COMO VENCER O BBB

Rangel Alves da Costa*


Alicerçado no poder midiático da Rede Globo, erguido sobre uma estrutura inatacável de apelações eróticas e sensacionalismo e suportado e aplaudido por grande parte da população, ainda assim esse repugnante e imoral reality show global não é invencível.
Ora, mas como vencer o BBB se ele, de repente, se torna onipotente e onisciente, todo mundo fala, todo mundo fala mal de quem falar mal dele? Como as pessoas que estão do lado de fora da casa do Bial e, dentro de uma casa muita mais respeitosa, se negam a assistir as inserções e ao show de safadezas, podem vencê-lo ainda que lutando contra a Globo, parentes e conhecidos?
É tão difícil quanto colocar na cabeça dessa multidão que antes de viver da fantasia nociva ao espírito e aos bons costumes seria bem melhor pensar, por exemplo, se as roupas já estão muito tempo sem ser lavadas, se a calça que mais gosta poderá ser recuperada ou doada, se a casa não está caindo aos pedaços, como está indo, enfim, a vida.
Muitas pessoas – e isso é fato – sequer entendem o que seja o programa, suas motivações comerciais, o que as pessoas realmente fazem ali dentro, o porquê de a Globo repetir sempre essa formatação apelativa, o que está por trás dessa exuberante fantasia. Talvez nem precisem porque a forma é o que menos importa diante de um conteúdo bem aos moldes de um povo que não está nem aí pra nada, apenas para viver de ilusões e babaquices.
Logicamente que todo mundo tem o direito de viver cada temporada do reality em perfeita comunhão com aquilo que acha maravilhoso e encantador; todo mundo tem o direito de gastar todos os seus impulsos telefônicos para votar no participante que quiser; não há que se negar a coerência comportamental de quem ri, chora, sonha e vive todo o seu dia para o programa.
Tem gente que faz promessas para que um ou outro vença, e isso também é bom porque assim demonstra que não estão apenas erotizados, mas guardam ainda um pouco de fervor religioso. Ouvi dizer de alguém que mesmo morando em barraco e tendo que lavar roupa fora para sobreviver, ainda assim lascou todas as economias numa antena parabólica e resolveu não sair mais de casa de jeito nenhum enquanto não terminar a temporada.
Outro dia Johnny me falou que é melhor ser apaixonado explicitamente pelo BBB do que viver sendo falso moralista e ter a honra indesejada até pela lama. Já outro me falou que é um entretenimento qualquer e que o povo tem o direito de se divertir com aquilo que estiver a seu alcance.
Concordo com os dois. Concordo com tudo. Entretanto, acedo apenas na medida do que Voltaire falou um dia: “Posso não concordar com uma só palavra do que dizes, mas respeito até a morte o seu direito de dizê-las”. Mas peço que citem um só, apenas um aspecto positivo existente nas exibições desse programa.
Justificar com base na ideia de entretenimento esta não será válida, pois conceitualmente entretenimento “é o conjunto de atividades que o ser humano pratica sem outra utilidade senão o prazer. É o desvio do espírito para coisas diferentes das que preocupam”. E qual o prazer proporcionado em saber se alguém é ou não transexual? Ora, até os grandes jornais do país não falam de outra coisa.
Contudo, para tristeza e repulsa dos apaixonados pelo programa, passo a citar três pedras de Davi para que o tal hábito nocivo advindo com esse monstro criado pela Globo, possa enfim ser vencido:
Em primeiro lugar, se perguntar se não há alguma coisa mais útil para fazer, assim como passear, ler alguma coisa, telefonar para saber como vai a família, assistir um bom filme, ir conversar com os passarinhos ou olhar a lua cada vez mais bonita.
Em segundo lugar, que tal desligar a televisão e valorizar um pouco mais o silêncio? No silêncio a pessoa viaja por situações que nem imagina.
Em terceiro lugar, fazer o que sempre faz, que é não pensar em nada, não ter senso crítico sobre nada, ser totalmente passivo diante de tudo que ocorre ao redor e além. E assim, assistir o BBB o dia inteiro, votar nesses políticos, dizer que o Brasil é o país de melhor qualidade de vida do mundo e que tudo é uma maravilha. Pronto.
Mas então o BBB não seria totalmente vencido, poderia indagar o outro. Negativo. Se o reality show é a cara do povo brasileiro, e este se contenta em ser perdedor, então haverá um vencedor nessa história: a ignorância.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

2 comentários:

Caca disse...

BBB, Faustão, Gugu, Datana, Xuxa, Angèlica e outros menos votaddos, para mim são os guardiões da mediocridade que é filha da ignorância de um povo. Muito bom o artigo, Rangel. Abraços. paz e bem.

Toninho disse...

Bem dito e repito,não com o Voltaire,mas na lingua popular de que gosto é gosto, já dizia Maria Chiquinha com a boca cheia de bo...
Terrivel amigo esta força da plim plim no desprezo das inteligencias.Abraço de paz.