DESCONHECIDOS – 11
Rangel Alves da Costa*
“Mas que sonho senhora?”, perguntou um Carlinhos um tanto que assustado.
“Foi um sonho muito importante que dizia... Mas aonde você vai? Volte aqui...”. E a velha senhora quase saiu correndo em direção ao portão ao ver que o menino repentinamente desapareceu correndo.
E Carlinhos procurou sair imediatamente dali porque avistou um guarda, com mais de dois metros de altura na sua visão, que caminhava em direção à velha para saber o que estava acontecendo, pois havia ouvido vozes. Acostumado a apanhar desse tipo de gente, mesmo que não estivesse fazendo nada, o menino achou melhor não esperar por tempo ruim.
Quando a velha percebeu que o menino havia saído dali com medo do guarda, chamou imediatamente o homem à sua atenção, deu-lhe umas boas reprimendas e exigiu que fosse imediatamente à procura do menino. E que ao encontrá-lo tratasse com carinho e respeito e tudo fizesse para que ele retornasse.
“Mas senhora, já está tudo muito escuro lá fora. Dificilmente a gente pode colocar as mãos em meninos desse tipo, que vivem pelas ruas e conhecem cada buraco existente...”. Disse o rapaz, de cabeça sempre baixa.
Então a velha não deixou nem ele prosseguir e foi logo dizendo: “Mas eu não quero que você coloque as mãos nele com violência ou lhe faça qualquer mal. Afinal de contas é apenas um menino que estava ali diante do portão apreciando o jardim. Não vejo nenhum mal nisso. Ademais preciso falar com ele, sinto que preciso falar com ele, pois o mesmo, ainda que não saiba, tem alguma coisa importante para me dizer...”.
“Mas não vou precisar nem fazer esse esforço, pois olhe ali no portão. Não é aquele mesmo menino que há instantes saiu em disparada?”. Disse o guarda aliviado, perguntando em seguida o que desejava que ele fizesse agora.
A viúva Doranice quase desmaiou quando o rapaz anunciou que Carlinhos havia retornado. Voltou o olhar para o portão e sentiu uma coisa boa tomar-lhe o espírito, suavizar sua mente e proporcionar um novo brilho aos seus olhos, ainda que marejados pela boa nova.
“Vá, vá, pode ir. Não se preocupe comigo não. Meus anjos estão ao meu redor, em cima de mim e em todo lugar, sinto-me encorajada para ir até ali para falar com aquele garoto. Lá dentro mande providenciar alguma comida quentinha e um bom copo de suco. Talvez aquele rapazinho esteja com muita fome e não negarei alimento a quem tem fome. Antes de sair me dê as chaves daquele portão, que saberei abrir e fechar com segurança. Agora vá”.
“Mas senhora, é apenas um menino de rua, um desses meninos de rua que vive por aí praticando pequenos roubos, amedrontando as pessoas, cheirando cola e usando outras drogas. É muito perigoso que a senhora se aproxime sozinha de uma pessoa como essa Dona Doranice...”, insistia o guarda.
Já impaciente, a velha olhou-o nos olhos e disse: “Vou lhe perguntar uma coisa, meu rapaz: E se um dia a lua tomasse o lugar do sol o que você faria?”. Como o rapaz ficou sem saber responder, apenas ela gesticulou e ele retornou em direção à mansão.
Assim que o rapaz deu as costas ela seguiu em direção ao portão. Carlinhos ainda estava lá em pé, e talvez estivesse observando o diálogo entre patroa e empregado, mas sem entender nada do que havia se passado. E já próximo de onde ele estava a velha senhora perguntou: “O que fizeste voltar aqui meu jovem, já que saiu em correria? Estava com medo daquele brutamontes?”.
“Confiar em quem minha senhora, se todo mundo acha que a gente só quer fazer o mal e por isso mesmo quer agredir? Mas eu só voltei para perguntar a senhora porque não deu nenhuma atenção àquele senhor que estava sentado ali naquele banquinho. Ele já saiu, mas estava ali, olhe...”.
E a velha Doranice estremeceu da cabeça aos pés. “Mas o que você está dizendo meu filho, que tinha gente sentada naquele banco?”. “Isso mesmo, era um senhor de cabelo liso e todo branquinho, com um bigode também, e estava fumando um charuto..”.
“Mas, mas, só conheci uma pessoa assim, e era... Meu Deus do céu, mas o que você está dizendo...”. E mesmo percebendo que a velha Doranice estava a ponto de desmaiar, o menino continuou: “E ele falava alto com a senhora e a senhora não dava nem atenção, mas eu ouvi tudo, ouvi tudinho. E pelas palavras dele achei que eram coisas importantes, por isso voltei para dizer a senhora que ouvisse ele, que não esquecesse de ouvir ele de jeito nenhum. Mas pelo jeito ele já saiu dali...”.
“Mas então era, o... o..., mas o que ele dizia?”
continua...
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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