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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DOCE VENENO DO AMOR (Crônica)

DOCE VENENO DO AMOR

Rangel Alves da Costa*


Conto o que me contaram. Na mesma medida da farinha que me deram encho a sua boca. Engasgue não, mas o caso é pra lá de desesperador. Se assente e ouça:
“Vou me matar, vou me matar vou me matar...
Que loucura é essa, menina, deixe de conversa besta.
Você não quer acreditar não, é? Então vai ver, pois vou me matar, vou me matar, vou me matar...
Pare com essa conversa e abra uma cerveja.
É pra isso que eu sirvo, não é? Somente pra isso, não é? Amanheço e anoiteço para lhe servir, para colocar à sua disposição, e no mesmo instante, tudo que você quer. E faço tudo de coração e quanto mais faço mais sou ruim. Agora chega, vá beber em outro lugar ou pedir a uma das raparigas suas para abrir quantas cervejas você quiser. Quanto a mim, esqueça, pois vou me matar, vou me matar, vou me matar...
Será que eu vou ter de telefonar pra sua mãe ou chamar um psiquiatra até aqui?
Faça o que quiser, chame quem você quiser ou até mesmo a puta que o pariu. Não tô nem aí com quem venha ou deixe de chegar, pois não estarei mais aqui mesmo para dar explicações a seu ninguém. Sabe quem você deveria chamar de verdade? Sabe quem? Você deveria chamar seu outro eu que sumiu, morreu, desapareceu e só deixou no lugar essa sombra do que era antes, esse verme imprestável, essa coisa nojenta e abominável. E por que continuar vivendo ao lado de uma pessoa assim, que nem gente é mais? Mas não se preocupe não que vou me matar, vou me matar, vou me matar...
Será que dá pra você parar de morrer tanto e abrir uma cerveja?
Vou abrir sim. Vou abrir a cerveja, colocar a dose, fazer salgadinho, trazer um tira-gosto bem gostoso pra você. Vou fazer o que você pede sim, como sempre fiz em toda minha vida. Não foi sempre assim, estar sempre bonita pra você, cheirosa pra você, sem olhar para homem nenhum por causa do seu ciúme doentio? Não foi sempre assim, eu tendo que sair de mim, me desfazer e multiplicar, procurando ser o que não era só para te ver feliz? Não foi sempre assim, deitando na cama, abrindo as pernas, gemendo e fingindo gozar só pra você se realizar como homem? Mas tudo que foi um dia não será mais, pois vou me matar, vou me matar, vou me matar...
Já tá indo longe demais. Não sei onde você vai buscar tanta revolta e descontentamento. Daqui a pouco vou ter que falar e então pronto...
Somente agora você quer falar. É muito estranho que você só queira abrir a boca pra dizer alguma coisa agora porque vou me matar. Você lembra quando vezes eu pedi, implorei, tudo fiz para que abrisse essa boca e dissesse alguma coisa boa para que eu ouvisse, que falasse comigo como falava na época de namorada, que chamasse pelo meu nome, dissesse uma palavra alegre, algo confortante, fizesse apenas um gesto de carinho e afeto e você sempre preferiu emudecer. Por que não criou coragem para dizer o que o seu coração sentia ou não sentia mais? Por que não disse que não me suportava, que estava me odiando, que eu havia me transformado em algo insuportável em sua vida? Agora pode dizer o que quiser, e fale enquanto ainda há tempo, pois vou me matar, vou me matar, vou me matar...
Se eu der um beijo você morre de amor?
Com seus beijos e abraços, carinhos, carícias, toques e muito mais, já morri muitas vezes, juro. E morri de paixão, de amor verdadeiro, de tão grande contentamento que eu sentia. E morria para renascer cada vez mais apaixonada, pois você era o homem de minha vida e o único que podia dispor, com um único beijo, sobre minha vida e minha morte. E agora você me pergunta se morrerei se receber um beijo seu. Respondo que sim. E se além desse beijo você fizer outras coisas mais, então é que morrerei mais rapidamente, pois subirei aos céus como alguém que se mata de desejo e prazer.
Então meu amor, chegue perto de mim. Precisamos viver antes que a morte chegue”.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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