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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DESCONHECIDOS - 13 (Conto)

DESCONHECIDOS – 13

Rangel Alves da Costa*


Pelo interior do país, vivendo numa dessas cidades pequenas metidas a medianas, e logo com o nome de Mormaço, Soniele, a mocinha prostituta, a Jasmim de Fogo para os apaixonados, acabava de sair do hospital onde havia ficado internada por dois dias.
Ainda estava cheia de hematomas e com um braço enfaixado da violência sofrida pelas mãos do filho do coronel Demundo Apogeu, o fazendeiro mais rico da região e por isso mesmo alcunhado com tal patente.
Dono de muitas fazendas nas redondezas, com cabeças de gado de fazer inveja ao rei do gado, ainda assim parecia não saber criar sua cria mais importante, que era seu filho único, o gabola, metido a besta e nojento do Mundinho, também conhecido como Gegeu.
Esse rapaz há muito tempo que merecia ser preso, tomar uma surra ou encontrar alguém de sangue no olho para lhe dar umas boas lições, pois o cabra não tomava jeito mesmo. Com vinte e poucos anos, sem pensar em tomar vergonha na cara, estudar ou trabalhar para ter vida honesta, andava fazendo meio mundo de desgraceira se agarrando no dinheiro, na fama e na mão acolhedora que o pai sempre lhe estendia.
O infame do Gegeu até que era bem apessoado, até mesmo porque nessas cidadezinhas onde quem manda é o poder político, o dinheiro e a influência, basta ser jovem e ter qualquer dessas características que já é tido como bonitão. Assim, aproveitando-se de todo um contexto favorável, onde a polícia bebia do seu uísque e o juiz o acompanhava nos bordéis nas capitais, esse rapazinho pintava e bordava impunemente.
Coisa de quem não tem o que fazer, mas a última que ele aprontou foi precisamente pra cima da pobre da prostituta gostosinha, a Soniele de tantos encantos espalhados em cada olhar. Eis que há muito tempo ele chegava ao cabaré de Madame Sofie e queria quebrar tudo se soubesse que a Jasmim de Fogo estava na função com outro homem ou se ela não quisesse sentar ao seu lado a noite inteira para atender aos seus caprichos.
Certa feita ela disse na cara do riquinho que para ela o dinheiro dele tinha o mesmo valor do dinheiro dos outros machos. E o mundo quase acaba nessa hora, pois o bom moço tascou uma garrafa de uísque na parede que fez a Madame Sofie se abanar implorando seus sais no mesmo instante.
Outra vez queria que ela ficasse se rebolando sentada no seu colo, quando ela jogou-lhe na cara que era quenga sim, mas de deitar e abrir as pernas ou levantar o rabo, mas para ser dançarina de colo era outros quinhentos. O injuriado do rapaz saiu do cabaré jogando a mesa bem longe e prometendo que ia mandar fechar aquele brega chinfrim. Sofie mandou a conta pro velho Demundo, com quem já deitara muitas vezes, e este mandou pagar tudo no maior contentamento.
As más línguas falavam, mas ninguém podia acreditar em trançado de fofoca e disse-me-disse, que na verdade Gegeu era mesmo perdidamente apaixonado pela prostituta. Não tinha namorada nem dava certo com mocinha nenhuma porque seu grande e único amor era mesmo a danada da Soniele. E quanto mais ela o desprezava mais o ricaço rastejava aos seus pés sem ninguém perceber.
Parte dos homens dava toda a razão a ele, pois o que se comentava na cidade e região é que não havia mulher mais bonita sem roupa, toda peladinha parecendo um veludo e seios que enfeitiçavam de tão formosos. E estes não mentiam não, pois desde a primeira vez que Gegeu deitou com ela pensou em pedir logo sua mão em casamento ou oferecer casa arrumada com tudo que ela quisesse ter.
O problema todo ocorreu quando uma prostituta alcoviteira, fazendo vida no mesmo cabaré, mandou um recado pra Gegeu dizendo que precisava lhe falar urgentemente. Não demorou muito e ele parou o carro na porta e mandou chamar a fofoqueira. E no mesmo instante ficou sabendo que seu grande amor Soniele já estava de mala arrumada para ir embora. Pelo que ela sabia seu destino era totalmente desconhecido.
Emocionalmente descontrolado, o rapaz desceu do carro e entrou no cabaré pedindo de uma só vez uma dose de cachaça, uma cerveja gelada e uma garrafa do melhor uísque que tivesse. Mandou chamar Madame Sofie e esta infelizmente teve que confirmar a notícia da outra. Perguntou onde Soniele estava e ficou sabendo que a mesma tinha ido até a rodoviária.
Completamente apaixonado, bebia dose após dose, olhando sempre para a entrada e mostrando uma impaciência sem fim. Assim que ela entrou toda linda e perfumada, ele não suportou mais e se atirou em prantos aos pés do Jasmim de Fogo. Então ela pulou para um lado e disse que nem de bêbado gostava.
Foi o estopim para que Gegeu avançasse e tentasse abraçá-la e beijá-la à força. Ela se movimentou rapidamente e o rapaz se espatifou pelo chão. Quando levantou já foi com outra feição, e dizendo que já que ela não queria assim então seria assado. E começou a agredi-la com socos e pontapés.


continua...




Poeta e cronista
e-mail: Rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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