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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

FALSOS AMIGOS (Crônica)

FALSOS AMIGOS

Rangel Alves da Costa*


Um dia, pensando que a letra da música era realmente sinônima de solidariedade e compartilhamento, eu quis ter um milhão de amigos. E bem mais forte poder cantar...
Hoje sei que os que catei, tirando do saco um ou outro nome, não valem absolutamente nada. Isso mesmo, não valem nada e ainda dão o desprazer de não estarem completamente esquecidos, apagados de vez, como bem merecem.
Mas como esquecer falsidades? Uma falsidade vinda de alguém que você confia, passou tanto tempo acreditando sinceramente na sua honestidade, honradez e bom coração, é igual ter que gritar o mesmo espanto de Júlio César ao ser apunhalado pelo próprio parente: Até tu, Brutus?
É até compreensível que o papagaio que você mesmo ensinou a falar depois lhe chame de gordo, feio e chato; que o espelho nunca esteja lhe sorrindo ou que atenda quaisquer de suas expectativas de estar ao menos simpático; que o cachorro que você tanto paparica comece a latir quando chega pé ante pé às três horas da manhã; que o colega de trabalho que você tanto ajuda vá dizer ao chefe que você anda e vira e esculhamba com ele.
Até aí é compreensível porque você não está lidando com pessoas ou seres realmente confiáveis. Porém, quando se trata de outros que você sempre diz que “botaria a mão no fogo”, “daria a cara a tapa”, “juraria por tudo na vida”, ou “confia muito mais nelas do que em si mesmo”, então as coisas mudam de rumo.
E mudam totalmente de direção porque quando a falsidade parte de quem você jamais imaginaria que pudesse chegar a tal ponto, o gesto de pura vileza passa a tomar contornos indescritíveis e a se caracterizar como uma descrença total nos outros. Nesse sentido, falsidade e traição se irmanam.
Como consequencia, difícil que não haja um rompimento sangrento nas relações de apreço e afetividade, um trauma tão profundo no senso de amizade que a partir daquele instante parece que o coração petrificou na crença de que não existem mais amigos e não se pode mais confiar em ninguém. E quase sempre está com a razão.
Outras vezes, porque o senso de cautela pede que a ação inescrupulosa de alguns não seja motivadora para a quebra de confiança de todos. Assim, a prudência passa a dizer que nem todos devem pagar pelos erros de uns, que nem todos são desprezíveis no mesmo patamar.
O próprio conceito de falsidade já deixa a gente com uma pulga atrás da orelha. O pior é que a gente só vai entender depois o significado, quando o “grande amigo” já deu provas suficientes de que há muito tempo quer o pior pra você, tanto faz como tanto fez se você precisa de algo ou o sorriso de felicidade que é dado diante de sua dificuldade.
Mas o conceito está lá: Falsidade é agir com mentira; é mentir, dissimular perante o outro que está crente de que é verdadeiro o que está sendo feito enganosamente; característica, qualidade ou condição do que ou quem não é verdadeiro; atitude de fingimento, deslealdade e hipocrisia; atitude reprovável que visa prejudicar outrem modificando de modo intencional a verdade.
Conheço muitas pessoas que vivem próximas e ao meu redor que são falsas até em demasia. Vivem fingindo que estão sempre aptas a compartilhar as alegrias e as tristezas, o bem e o mal, mas não conseguem esconder que por trás disso tudo há outras intenções.
Agindo sempre com a velha noção de que amigos só servem para servir, para deles subtrair o máximo possível, vão usando e abusando até secar o poço. Se acaso for dito a eles que está precisando que façam isso ou aquilo, ajudem a resolver um pequeno problema ou mesmo que não revele um segredo, então tudo se revelará instantaneamente, ainda que através da falsidade.
Após arranjar mil desculpas para não ajudar, o passo seguinte é desqualificar seu pedido e tentar mostrar que é injusto que um amigo peça uma coisa desse tipo a outro. E o circo vai sendo armado até que todo mundo ache que ele está com a razão.
E nesse passo, o falso vai espalhando às escondidas que nunca esperou que você fizesse isso com ele, que sempre foi bom amigo, que nunca deixou de servir em momento algum. E o seu jeito de mentir é tão eficiente que o os outros acabam acreditando. E o falso passa a ser você.
Conheço um monte desses. E de vez em quando ainda querem aparecer com carinha de bons moços, de coitadinhos, de pobrezinhos e desvalidos. Adoram uma cerveja de graça, uma feijoada também. No próximo mês é o meu aniversário e eles vão estar ciscando ao redor. Tudo venha a nós, ao vosso reino nada.
Vai-te pra lá magote de cabra safado, de coisa ruim!





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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