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sexta-feira, 13 de maio de 2011

COM UM ABRAÇO FRATERNO (Crônica)

COM UM ABRAÇO FRATERNO

Rangel Alves da Costa*


A frase de despedida acima seria para ser dita ao final destas palavras, mas antecipo e cordialmente afirmo: com um abraço fraterno! As razões todos entenderão, principalmente você.
Na primeira carta que envie falei da minha vontade de fechar a porta e as janelas, pegar estrada, seguir por aí, como há tanto tempo desejava. Rapidamente você respondeu dizendo que esperasse um pouco, pois antes de qualquer viagem gostaria de me encontrar. Atendi seu apelo, fiquei, esperei.
Você nunca chegou e ainda assim resolvi enviar uma segunda carta, dessa vez dizendo que não haveria mais tempo para conversas e despedidas, pois os meus planos não podiam mais ser adiados e nem eu pretendia ficar nem mais uma semana naquele lugar de tantas recordações.
Quando eu já estava arrumando um resto de lembranças para espalhar numa mala, eis que o carteiro bate à porta com um telegrama urgente. Tinha certeza que seria alguma coisa de sua parte e assim que recebi a missiva tudo se confirmou. Em poucas linhas estava escrito que assim que conseguisse passagem você tomaria o trem. Não disse se amanhã ou depois.
Acostumado a tanto esperar e a tanto sofrer, abri novamente as janelas, coloquei um banquinho perto da porta da frente e fiquei imaginando o que fazer para passar o tempo até o seu trem apitar na estação. Peguei na pena e num caderno e fui rabiscar um verso:

Nem caminho sou
Nem caminho tenho
Não sei onde estou
Não sei se fui ou se venho
Mas queria ir além
Pra lugar qualquer
De prazer ou desdém
Mas não tenho passagem
E apita o trem
E na minha miragem
No trem ela vem
E se não for ela
Amanhã vou seguir
Fechar a cancela
De novo partir
Dou adeus digo amém
Despeço de mim
Não existe mais trem
Não existe ninguém.

Três dias depois, fechei a porta e passei no correio apenas para postar a poesia da despedida, de modo que você soubesse que esperei na força da palavra possível até o último momento. Minha consciência pedia que fizesse isso por não guardar nenhum rancor, mesmo das pessoas acostumadas a brincar com sentimentos.
Verdade é que agora não sei onde estou, mas estou muito longe. Se acaso algum dia você retornar, a chave encontrará no mesmo lugar, embaixo daquela pedra onde existia um jardim. Pode abrir a porta e entrar, a casa é sua. Em cima da banquinha está uma folha debaixo da lamparina.
Pode ler, coisa simples, apenas “com um abraço fraterno”.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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