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segunda-feira, 9 de maio de 2011

NOVÉJIAS MERICANAS: A LADRA (Sátira)

NOVÉJIAS MERICANAS: A LADRA

Rangel Alves da Costa*


Estelita Solares trabalhava desde uns cinco anos na casa da família Reinoso. Chegou ali mais precisamente aos quatorze anos, batendo à porta e implorando um emprego de faxineira. Mesmo com a relutância da matriarca Dolores Reinoso, aquela só foi aceita porque soube explicar muito bem as dificuldades que ela própria e sua família estavam passando.
Com razão, pois numa situação de extrema miserabilidade vivia a família da jovem. Mesmo naquela idade, muitas e muitas vezes chegaram perto dela tentando levá-la para o mundo da prostituição, do tráfico e da prática de outros crimes. Nunca aceitou, pois desejava, acima de tudo, preservar sua dignidade. Teria o que realmente lhe coubesse, mas apenas pelo trabalho honesto que encontrasse.
Assim, finalmente aceita para ser testada na mansão da família Reinoso, começou fazendo de tudo um pouco, desde lavar louças, servir almoço até limpar o jardim. Ao ganhar confiança da matriarca Dolores Reinoso, logo foi por esta requisitada para viver sempre à sua disposição, servindo-a naquilo que fosse chamada a servir.
Contudo, essa proximidade de Estelita com a velha senhora, numa amizade que as faziam estar sempre próximas, fez com que a neta da matriarca, que desde pequena morava com a avó, ficasse extremamente enciumada, criando até mesmo ódio e um desagradável clima de desavenças.
Mas a ira, a raivo e todo o ódio que Juanita Reinoso, a neta mimada, começou a sentir, não era voltada precisamente para a empregada Estelita, mas sim pela sua proximidade demais com sua avó, como se esta estivesse sendo observada o todo tempo pela serviçal amiga. Se essa situação continuasse os planos que tinha não poderiam ser concretizados.
Verdade é que Juanita Reinoso era uma moça problemática demais, já tendo criado situações constrangedoras para toda a família. Mesmo sem precisar, pois rica e tendo tudo ao alcance assim que necessitasse, fato é que por diversas vezes ela já havia flagrada furtando em lojas e butiques de luxo.
Se fosse uma pobretona, certamente já teria sido presa muitas vezes. Não se sabe bem porque, mas ela chegava aos ambientes comerciais e começava a esconder joias e pequenos objetos de alto valor na sua bolsa. Como era muito conhecida e até pelo nome familiar que carregava, por três vezes foi chamada à gerência para devolver os objetos. Noutras duas vezes os donos das lojas simplesmente deixaram a moça sair com os objetos furtados e depois mandaram as contas altíssimas para a mansão.
A avó, a mãe e outros parentes, muito constrangidas com tal situação, ainda assim diziam que ela era cleptomaníaca, portadora de um distúrbio psicopatológico que faz a pessoa começar a roubar coisas diversas, inclusive sem valor. Mas por outro lado, e demonstrando plena certeza, outros familiares diziam que não havia doença nenhuma nela e sim sem-vergonhice, mau-caratismo, ladroice mesmo. Enfim, que ela roubava porque queria mesmo, porque era ladra.
O que Juanita queria agora, e talvez ninguém estivesse atento para isso, era roubar a própria avó, mas estava sendo dificultada pela presença constante da serviçal. E quando a família a convidou para ter uma conversa, para falar sobre a necessidade de fazer um tratamento, ela desconversou e disse que a família deveria ficar de olho mesmo era na empregada, em Estelita Solares, que lhe havia chamado para juntas roubar a velha matriarca.
O espanto foi geral ao ouvir tal revelação mentirosa. Mas no mesmo instante, toda a família, menos a própria matriarca, exigiu que a empregada fosse dispensada naquele mesmo dia e dali sair direto para prestar esclarecimentos numa delegacia. Foi levada para a delegacia e logo presa sem ser ouvida em momento algum.
Quando os familiares se retiraram, a matriarca foi até a delegacia contou toda a verdade e libertou a amiga. Ofereceu-lhe uma vultosa quantia em cheque e desejou-lhe as maiores felicidades do mundo.
Quando a polícia chegou à mansão para convidar Juanita a prestar esclarecimentos, esta já havia arrombado o cofre da avó e fugido com o que encontrou.
FIM



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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