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quinta-feira, 26 de maio de 2011

“ESTREITA A PORTA E APERTADO O CAMINHO” (Crônica)

“ESTREITA A PORTA E APERTADO O CAMINHO”

Rangel Alves da Costa*


Não quero a largueza de um vão à minha frente nem uma estrada florida no meu percurso, se para encontrar a vida somente preciso de uma porta estreita e de um apertado caminho. Não são apenas palavras bonitas, mas consciência do quanto preciso para minha humanização.
No Evangelho Segundo Mateus está esse norte único e que tanto preciso: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram” (7,13-14).
Não sei se meu passo consegue encontrar esse norte. Tenho andado feito anjo torto em busca de uma lua cadente, muitas vezes dormindo na lua e acordando no sol. É que às vezes não sei bem onde estou, o que sou nem o que quero ser. Mas sei onde quero ir, para onde preciso seguir. Sei muito bem onde quero chegar.
Quando o sonho bom vai chegando, sinto que vai acontecer, eis que o passarinho me chama com a mesma voz de água corrente. Levanta e vá se banhar de sol e procurar sua estrada. E não tenho o que fazer senão me benzer ao badalar dos sinos da igrejinha e partir.
Meu amor não vai botar comida no fogo pra me esperar, até mesmo porque nunca fez isso. Não há nem amor nem ninguém que me espere retornar, mas sempre retorno porque todo caminho que encontro é muito largo para o meu passo humilde. Quero uma estrada que me deixe apenas passar e isso basta. E nessa estrada um espinho, uma pedra, um cansaço. Não é assim a vida?
Posso bem colocar um pé na frente e outro atrás. Alguém me disse isso um dia, após não conseguir caminhar com os dois pés ao mesmo tempo. Nem adianta correr, nem adiante querer voar. Ora, o lugar que quero encontrar não vai sair de lá. Aliás, já está aqui. Meus pés estão sobre ele, porém o meu coração ainda não o alcançou.
Meu chinelo de couro sempre estranha caminhos enfeitados demais, fáceis demais de andar. Do couro cru que é feito, aprendeu apanhando para saber caminhar, por isso que gosta de seguir pelos espinhos, pois sabe que não haverá traição. Não sei por que, mas em certas flores, plantas exóticas e pétalas sorridentes sempre encontro o espelho de amigos que estão à beira da estrada para amedrontar, perseguir, destruir, pois tudo falsidade naquilo que seria amizade.
Mas são tantos os labirintos e os assombros que existem ladeando essa estrada que nem colocaria um só pé se não tivesse um destino, um desígnio na vida. Se quanto mais difícil é o caminho melhor a chegada, então que os abraços da felicidade me esperem um dia. E dia que já encontrei, destino que já encontrei, a vida que reencontrei. Ora, só falta a minha fé confirmar isso. Alegrai-vos, então, homem de pouca fé!
Por não ser fácil de caminhar pelo verdadeiro caminho, também sei que devo estar pronto para a travessia. Preciso, então, do que para botar no velho alforje de caçador, derramar no cantil amarrotado, jogar por cima dos ombros e do corpo?
Ora, desde cedo aprendi que o homem tem tudo quando sabe o quer. Se quero encontrar a felicidade, a minha vida que me pertence e não está em mim, e sei que tudo isso somente é possível a partir daquilo que quero e que sou, então já sei que não preciso levar nada além do que já tenho no coração.
Tenho no coração uma imensa igreja, uma fé imensurável, uma bíblia aberta no Salmo 22, uma vela acesa, um incenso queimando, um altar do Senhor perfumado. Tenho ainda dentro do coração os meus joelhos que se dobram em oração, uma fervorosa prece, um pedido:
“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, Fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna”.
Vejo a porta aberta, Senhor, cheguei pelo apertado caminho, mas como é bom, é doce, é canto, encanto, a Ti reencontrar.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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