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terça-feira, 17 de maio de 2011

MULHER NUA VESTIDA DE LONGO (Crônica)

MULHER NUA VESTIDA DE LONGO

Rangel Alves da Costa*


Sim, eu sempre vejo, eu sempre sonho, eu sempre tenho, eu sempre olho passando e desejo a mulher linda, completamente nua e vestida de longo.
Soaria contraditório, um contrassenso, afirmar que uma mulher pode estar ao mesmo tempo completamente nua e vestida de longo. Mas a mulher é minha, povoa os meus sentimentos e pensamentos, e a vejo não em atenção à razão, mas atendendo aos desejos do olhar.
Ademais, estou absolutamente certo da possibilidade de que a mulher esteja nua e vestida a um só tempo. Não requer nem muitas explicações para que de agora em diante todos possam ver a mulher nua ainda que ela esteja de macacão, máscara, capacete e botinas, inteiramente coberta.
Ora, o corpo nu da mulher estará sempre dissociado de qualquer roupa que ela tenha por cima. O corpo, através da pele e das curvas, é o que mais original há no ser humano. Todo mundo nasce nu e assim continuará o corpo por toda a vida, a não ser que colassem panos à própria pele para lhe encobrir pelo resto da vida.
Assim, como nenhum enxerto ou revestimento é feito, com tecidos passando a tomar conta de pele original, o corpo continuará nu, ainda que roupas lhe encubram dos pés à cabeça. Isto porque a roupa está por cima do corpo, de modo sobressalente, separadamente, de forma que cada um tem vida própria e nenhum depende do outro para existir, a não ser como mero instrumento de proteção e enfeite.
É preciso, pois, que fique bem esclarecido que o corpo com sua pele é uma coisa, enquanto a roupa com o seu tecido é algo totalmente diferente. A pele orgânica não é tecido sintético, do mesmo modo que este não tem a sensibilidade daquela. A pele é o próprio corpo; a roupa apenas o encobre. Todo mundo sabe, mas é preciso relembrar
Por consequencia, uma coisa nada tendo a ver com a outra, fica claro que a mulher completamente nua pode estar usando um vestido longo todo enfeitado. Tanto faz, pois ela continuará nua do mesmo jeito. E ainda que use roupa sobre roupa, coloque por cima uma laje de cimento, ainda assim continuará nua. No corpo, a pele e as formas são tão próprias que para ser retiradas precisam de procedimento cirúrgico.
Desse modo, a mulher dos meus sonhos e desejos passa adiante, toda vestida e perfumada, a minha razão diz que ela está toda composta, porém meus olhos começam a dizer, e com toda razão, que ela possui uma nudez linda e um corpo de curvas, cantos e recantos maravilhosos. E quantas nuvens ultrapassam nessa viagem.
Eis que os meus olhos não quiseram enxergar a roupa que divide a mulher e o corpo, mas apenas o corpo com sua nudez e encantamentos. De certa forma, o que meus olhos enxergam é a parte originária, pura, própria da mulher. Como a roupa não interessa senão à razão, logicamente que vão buscar precisamente aquilo que quer ver.
Mas nesse momento poderia surgir outra questão. E esta sim, muito mais difícil de ser compreendida. Como enxergar o corpo nu se por cima dele há panos e mais panos?
De antemão afirmo que quem não tiver sensibilidade, não souber o que pretende encontrar na mulher que passa, nem adianta querer enxergar nada além da roupa mesmo. E muitas vezes até a roupa já é demais para quem não sabe apreciar ou distinguir um caminhar bonito e sensual e se contenta apenas com o tamanho das nádegas e o seu rebolado.
Contudo, o segredo de se ver além da roupa, sem ter que despir a mulher na rua, é fruto do mesmo procedimento que os poetas usam para criar seus versos de amor: amam a ideia do amor e tal certeza faz com que a palavra nasça como se estivessem amando.
Assim, é preciso amar a ideia daquele corpo nu, com a certeza de que além da roupa ele está realmente nu, para que a mulher seja vista completamente nua diante olhar.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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