NOVÉJIAS MERICANAS: A MULHER SEM PREÇO
Rangel Alves da Costa*
Don Felipe Augusto possuía como maior característica o eterno desrespeito ao próximo, como se a sua imensa fortuna pudesse submeter, subjugar e comprar qualquer coisa ou pessoa.
Herdeiro jovem de uma imensa fortuna paterna, morava praticamente sozinho na mansão situada no Rancho dos Cuevas. Praticamente sozinho porque sempre sob o manto protetitivo, vigoroso, com mão de ferro, de sua mãe, a viúva Constança de La Cueva.
A fama cruel da matriarca De La Cueva, como se fazia denominar, ultrapassava os limites do rancho e se espalhava por todos os lugares mais distantes. Apegada demais aos bens materiais, fazia de tudo para que seu filho Felipe Augusto evitasse falar ao menos em casamento, pois contraindo núpcias traria para o lar uma herdeira com quem teria de dividir os bens.
Se ouvia falar que o filho estava flertando ou namorando alguma jovem, logo procurava tomar uma das duas providências, tidas como principais afazeres da cruel mulher. A primeira era procurar a família da moça, se esta fosse de família nobre, de modo a falsear amizade e assim poder espalhar os maiores deméritos do filho, dizendo que ele era imprestável, preguiçoso, um ébrio contumaz. E logo a família afastava a moça de pretendente tão indesejado, ainda que milionário.
Por outro lado, se tomava conhecimento que a moça era pobre, humilde, de família menos abastada, logo mandava capangas intimidá-la, persegui-la, buscar meios para desmoralizá-la. Se ainda assim não conseguisse passava a utilizar sua arma mais poderosa e eficaz, ainda que abjeta, que era oferecer dinheiro para que a mulher se afastasse do seu filho. Assim gastava verdadeira fortuna comprando a honra de diversas jovens.
Essa práticas, contudo, eram corriqueiras sem que nada chegasse ao conhecimento de Felipe Augusto de La Cueva, seu filho único. Temia mais que tudo se algum dia este soubesse dessas ações e a afastasse de vez daquela mansão, da sua vida de poder com mão de ferro e ameaças. Ademais, o que mais temia era o temperamento forte e explosivo do rapaz, que nunca gostava de ser contrariado nos seus atos.
Eis que numa triste tarde, a matriarca de La Cueva tomou conhecimento que uma bela jovem havia se instalado com sua família muito pobre numa casa nas proximidades do Rancho. Segundo foram lhe contar, a moça era tão bela, meiga e doce, que dificilmente Felipe Augusto não se encantaria no primeiro momento que a visse enquanto estivesse cavalgando nas proximidades.
A notícia caiu como um baque na maldosa senhora. Mandou imediatamente que aprontassem sua charrete que ira dar uma volta nos lugarejos ali próximos, com o intuito de avistar aquela jovem que seria tão perigosa para os seus planos. E não demorou muito e estava praticamente sem acreditar no que via, pois jamais em toda sua vida havia visto criatura que se confundia com as próprias flores no pequeno jardim que regava.
Com efeito, Brisa Solnado, como se chamava a linda mulher, havia se mudado para aquela pequena casa porque seu pai vivia constantemente de um lado para o outro buscando um emprego fixo para se demorar por algum tempo. De tão pobre que era, vivia com roupas feitas de paninhos baratos, sem nenhum enfeite e até remendadas. E essa simplicidade toda dava uma imensidão ainda maior aos seus inumeráveis encantos.
A matriarca ainda estava ali apreciando a moça, de olhos arregalados e ódio fervilhando pelo corpo inteiro, quando foi surpreendida pela chegada de Felipe Augusto em seu cavalo. Assim que este chegou e avistou a jovem ficou inteiramente tomado de agradável surpresa, completamente perplexo diante de tanta beleza, por uns três minutos seguidos, sendo preciso que a mãe lhe cutucasse chamando-o apressadamente para ir embora.
O rapaz foi, mas não sem ficar o tempo todo olhando para trás, completamente apaixonado, maravilhosamente apaixonado. Ao perceber isso, punhais cortavam o coração da matriarca. Que ódio, que raiva, que sanha, passou a sentir.
Ao chegar à mansão e mais tarde ficar sabendo que o filho havia resolvido cavalgar novamente, quase tem um ataque do coração. Mandou chamar as pessoas que estavam acostumadas a executar seus planos cruéis e deu ordens detalhadas, pedindo pressa, exigindo cumprimento imediato.
Assim, chegaram perante o pai da mocinha e ofereceram uma verdadeira fortuna pela pobre tapera, com a condição de que toda a família deixasse aquele lugar imediatamente. Mas como resposta ouviram do pai de Brisa Solnado algo surpreendente: não sairia dali por preço nenhum porque no dia seguinte começaria a trabalhar na propriedade de um grande empresário chamado Felipe Augusto.
Ao ser informada desse fato, a malvada matriarca enfureceu-se de tal forma que quase atinge um dos seus empregados ao jogar um punhal na parede. E em seguida, com ares de santidade e toda bondosa, foi ela própria falar o que tinha a falar com a moça e fazer sua irrecusável proposta: daria um castelo onde ela quisesse se prometesse que jamais olharia no olhar de seu filho Felipe Augusto.
Mas a moça respondeu que não poderia aceitar porque ele já havia lhe dado um presente muito maior, muito mais valioso e mais importante: uma caixa de chocolates. E a mulher caiu pra trás toda torta. E não pôde mais presenciar o início daquele imenso e duradouro amor.
FIM
Poeta e cronista
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