JUQUINHA DE AMOR E RIMA
Rangel Alves da Costa*
O menino Juquinha tava apaixonado demais. Nem era rapaz e buscava o que satisfaz, catava um amor, no coraçãozinho o fervor de experimentar o sabor.
Mas Juquinha era guri, molecote de fazer rir, novo demais pra querer em namoro se meter. Se soubesse o pai reprimia, a mãe vinha com arrelia, ninguém ia acreditar que soubesse o que é amar.
Pra amar não tem idade, seja cedo ou muito tarde, o amor é a liberdade que vem com sinceridade. Juquinha sabia disso e mesmo todo rebuliço não podia impedir um grande amor conseguir.
Já tinha em mente quem era, ninguém mais que a paquera, a menina dos seus sonhos, de trejeitos tão risonhos. Era coleguinha de estudo, de recreio e de faz tudo, um doce feito de gente, deixando o olhar todo contente.
Quando passava por ela, sorria de forma singela, queria chamar pra conversar, queria com ela passear, mas nada da vergonha deixar. Pensou em escrever um poema, mas logo veio o dilema de não saber rimar, o nome dela com a palavra amar.
Perguntou a um bom amigo se paixão era castigo, e o outro respondeu que era presente que Deus deu, pois a pessoa apaixonada vai buscando a estrada mais justa para viver e mais tarde o amor ter.
Perguntou ao bom amigo se amar era perigo, pois ele já tinha medo de enlouquecer muito cedo, se ela dissesse não, se entristecesse o coração. E o outro logo disse que deixasse de tolice, deixasse de tanta burrice e contasse tudo a ela, passasse pela janela mandando beijos à donzela.
Então Juquinha alegrou, cada vez mais se enamorou, e logo um meio procurou de se aproximar do amor, querendo sentir o sabor da paixão que encontrou. Então pensou no que fazer para ela perceber de sua admiração, nada mais do que paixão, alegria do coração.
Pensou em mandar um recado, mas ficou acabrunhado, pois se não tivesse cuidado tudo daria errado; pensou em tomar coragem e fazer logo abordagem, mas nisso não via vantagem se era melhor uma mensagem; pensou um olho piscar assim que ela passar, mas depois de imaginar que ela nem ia olhar se pôs de novo a matutar.
Cismou de mandar um bilhete, direto e sem falsete, contando tudo e sem joguete, mas depois voltou atrás, pois viu que era incapaz de dizer o queria sem ser com tanta alegria. Tinha que ser meio triste, como em tudo que existe, até pra ela sentir que ele estava num afligir, que não podia mentir com tanto desejo a lhe ferir.
Nada disso deu certo e ficou feito um deserto, sem saber pra onde ir, sem mostrar o seu sentir. Rasgou tudo e jogou fora, se aborreceu sem demora, se fosse grande ia embora. Deitou na sombra da tarde e sonhou uma verdade que deu um pulo e correu, no mato se escafedeu, já sabendo o que fazer para o amor obter.
Sonhou que ela, de tão singela, gostava de coisa sem luxo, sem embuxo nem repuxo, mas que lhe fizesse feliz, como a flor que sempre quis, um passarinho ou perdiz, uma boneca de pano, um pingo do oceano, uma esperança todo ano.
Assim fez um cesto com folhagem, botou no fundo ramagem, catou no mato a flor, goiaba madura e sabor, fruta de muita cor, araçá com seu louvor, fez um buquê de se ver, um doce de se comer, a simplicidade pra se ter.
Pegou uma folha branquinha e com letra miudinha se fez poeta brilhante, se inspirou num instante, fez da mente uma amante e num passo delirante escreveu o que bem quis, depois se sentiu feliz porque ali estava escrito o seu amor quase num grito.
Grito pra ninguém ouvir, apenas sentir: Sei que te amo e provo o meu amor bem assim. Receba a flor, tudo enfim. Aceite a lembrança e vem pra mim.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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