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sábado, 7 de maio de 2011

OS AMANTES (Crônica)

OS AMANTES

Rangel Alves da Costa*


Alguém poderia pensar que o caso que se segue tem algo a ver com aquele poema de Drummond intitulado “Quadrilha”. Com efeito, o texto drummondiano diz assim:
“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”.
Mas não. Não tem nada a ver mesmo e qualquer aparência com o círculo amoroso relatado acima terá sido mera coincidência. O fato presente aconteceu de verdade e está mais para crônica policial do que para poema.
Na verdade, Teresa Maria amava João Antonio, que amava Lucinha e Raimunda, menos Tereza.
O marido de Lucinha, Edmundo, amava a esposa e também Teresa Maria, a esposa de João, de quem já havia sido namorado na infância.
Contudo, Teresa Maria, além de João Antonio seu esposo, flertava apaixonadamente com Paulo, casado com Raimunda.
Raimunda, muito safada que era, além de viver traindo o esposo Paulo, se encontrava às escondidas com João Antonio, esposo de Tereza, e mais Serjão, um rapaz da localidade.
Deu que Lucinha ao se encontrar um dia com Serjão se apaixonou pelo rapaz e prometeu deixar seu esposo Edmundo e o amante João para se entregar aos seus braços para sempre.
Mas Serjão se engraçou mesmo foi com Tereza, esposa de João e amante de Paulo, que disse que não podia ter mais macho porque já estava sobrecarregada, mas que iria fazer um esforço se ele trouxesse junto seu amigo Mauricinho, de contrapeso.
Entretanto, por mais morenice e corpo bem feito que Teresa tivesse, Mauricinho estava caído de paixão mesmo era por Raimunda, a boa de papo.
Raimunda ficou de dar uma resposta a Mauricinho assim que soubesse como arranjar tempo e jeito para enganar Paulo, seu esposo, e Serjão, seu amante.
Como não era de perder tempo, assim que Lucinha botou o olho em Mauricinho disse que era aquele que ela queria mesmo. Deu em cima do rapaz e prometeu que em dois dias ia deixar, de uma vez só, Edmundo, o esposo, João, o amante, e Serjão, o outro amante.
Contudo, num dia que bem poderia ser de mais amores, traições e amantes, a cidade acordou aos gritos.
Teresa Maria amanheceu estrangulada.
Lucinha amanheceu trepada num pé de jaqueira.
E Raimunda amanheceu sufocada por espartilhos e calcinhas vermelhas.
Três mortes e de forma tão terrível para mulheres tão dignas e respeitosas. Foi o que se espalhou pela cidade. Tão jovens, tão belas, tão cheias de vida e morrer assim, ainda na flor da idade.
Nenhum dos maridos estava em suas casas nessa noite terrível, então quem poderia ter cometido tamanha brutalidade?
João encontrou Lucinha morta porque foi em sua casa falar com o seu esposo Edmundo.
Por coincidência, Edmundo encontrou Teresa morta quando tinha ido à sua casa visitar João, o esposo desta.
Já Paulo recebeu a notícia de Edmundo, pois já ia entrando também na casa de Tereza para visitar João.
Serjão e Mauricinho estavam em casa, bem deitados e agarradinhos, pois eram amantes.
E até hoje ninguém sabe quem matou quem.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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