NOVÍSSIMO MANUAL DO AMOR
Rangel Alves da Costa*
As primeiras páginas do Novíssimo Manuel do Amor são como aqueles bons momentos que antecedem o amor expressado através do namoro, por isso mesmo contêm pequenas lições de como saber olhar, como se dirigir à pessoa pretendida, como entregar uma flor, como pegar na mão, como roubar o primeiro beijo.
Mas depois desse necessário preâmbulo, quando o beijo roubado já foi correspondido com quase um furto de coração e os enamorados já passaram a se sentir como verdadeiros cativos do amor, o livro começa a explanar sobre máximas e exemplos de como preservar esse amor.
E diz, por exemplo, que:
Nunca demonstre amar mais do que o verdadeiro amor que sente. Do contrário será difícil mais tarde expressar um amor muito maior ou mostrar que o desejo de amar já não existe.
Nunca dê presentes à pessoa amada. Quem dá hoje uma rosa amanhã quer presentear com um buquê, mais tarde ela vai esperar a floricultura. Criar expectativas demais pode prejudicar e colocar tudo a perder.
Ao invés de dar presentes pense em se mostrar como um belo presente, fazendo com que o outro a cada dia sinta que você foi a melhor, maior e mais preciosa doação que alguém poderia receber na vida.
Nenhum namorado ou namorada gosta que o outro faça perguntas sobre suas intimidades ou sobre outras questões muito além da relação. Ao insistir, mais tarde vai ter a desagradável surpresa de saber que o outro mentiu para lhe dar satisfação.
A verdade é a base, o suporte maior de toda relação amorosa. Ao mentir a pessoa estará sendo duplamente desonesta, não está preparada para dividir com o outro problemas e soluções e não merecerá nem a credibilidade própria se mentir duas vezes.
Amorosamente, pode falar do que jeito que quiser com o seu amor, pois as palavras nem sempre exigem pronúncias perfeitas, porém jamais escreva um poema ou bilhete, envie um e-mail ou qualquer coisa parecida com escrachos erros gramaticais. Muitas vezes o erro grosseiro demais chega como lâmina afiada bem no olhar de quem lê.
Se o outro gosta de simplicidade, procure ser simples. Por que batom com cor exagerada demais, rosto cheio de maquiagem, roupas pesadas e desconfortáveis, joias por todos os lugares? Qualquer dia o outro poderá amanhecer ao seu lado, sem adornos, sem maquiagens.
Procure saber da música que ele mais gosta, do livro que ele nunca esqueceu, do artista que ele mais aprecia, daquilo que ele mais gosta de falar. Aprenda a letra da música, saiba quem é o autor e um breve resumo sobre o livro, conheça as qualidades do artista, enverede pela história ou cotidiano. Nunca mais você esquecerá a reação dele diante dessas surpresas.
Quando pretenderem discutir os caminhos da relação subam na montanha de mãos dadas, sentem na pedra diante da cachoeira, apreciem as folhagens no entardecer do outono, fiquem na janela observando a chuva que cai lá fora, caminhem pelo jardim admirado o luar. Ninguém nunca brigou no paraíso.
Faça de cada encontro um prazer renovado, como se estivesse aflita para aquele momento chegar, para poder abraçá-lo e mostrar da satisfação de estar ao seu lado. A sensação de retribuição é o que faz sentir que cada encontro é o mais desejado mesmo.
Faça de conta que esqueceu uma agenda em cima do sofá; deixe sobre o sofá a sua mais bela fotografia; deixe também lá um papel de carta dobrado. Ao retornar você saberá se aquele homem merece ser confiado e realmente amado.
Depois do olhar extasiado com aquela beleza, com o beijo agradecido, talvez você tenha de ficar sem a fotografia. Mas já era pra ele mesmo, até que a dona se revele em nudez no momento certo.
Mas tudo isso está no livro. Já o li mais de dez vezes e ainda não aprendi nada do amor. Quem dera alguém me ensinar.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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